Ansiedade, depressão, cansaço e todo o malabarismo das mulheres nesta quarentena

By 22 de junho de 2020Lute como uma garota

Isolamento social, medo do contágio, perda de renda e morte de pessoas queridas, jornada de trabalho quadruplicada, risco de violência doméstica. A carga física e mental que caiu sobre as mulheres durante a pandemia têm aumentado consideravelmente os quadros de ansiedade e depressão nessa população.

 A Organização das Nações Unidas (ONU) destacou que as mulheres correm um risco particular de apresentar sofrimento psicológico relacionado à Covid-19, “particularmente aquelas que estão fazendo malabarismos com a educação em casa e trabalhando em tarefas domésticas.”

A auxiliar financeira Bianca Valente, de 31 anos, notou sintomas de ansiedade pela primeira vez durante a pandemia. Ela mora no Rio de Janeiro com o namorado e está trabalhando em casa. As primeiras semanas do isolamento foram tranquilas, mas, a partir do fim de março, começou a se preocupar muito com a possível morte de pessoas de sua família e decidiu procurar apoio psicológico gratuito. Além do acompanhamento profissional, Bianca também passou a consumir menos notícias relacionadas ao coronavírus. No entanto, ela assistiu a uma reportagem sobre o tema e começou a sentir um nó na garganta.

“Tive uma sensação ruim, que não passava. Tentei deitar para relaxar e comecei a sentir falta de ar. Fiz exercícios de respiração e como não apresentei nenhum sintoma de outra doença, acredito que tenha sido uma crise de ansiedade”, conta.

Uma das principais queixas de Bianca atualmente é a falta de concentração, que tem atrapalhado também no trabalho.

“Nunca passei por isso antes, foi uma situação muito nova. Meu maior medo é ficar com essa herança da pandemia. Não sei se isso vai ser um caso isolado ou se vai passar a fazer parte da minha vida”, desabafa.

A estudante Erika Chaves, de 20 anos e moradora de Minas Gerais, já percebia sintomas de ansiedade há algum tempo. No entanto, com a pandemia e a necessidade de ficar em quarentena, a situação piorou. Na última semana, ela se sentiu mal e ficou com o corpo “adormecido”. Erika foi ao hospital, onde recebeu o diagnóstico de crise de ansiedade.

“Moro em um pensionato com algumas pessoas, mas longe da minha família, então isso piora bastante. Fico me questionando se minha mãe está bem. Além disso, não estou indo para a faculdade, algo que ocupava minha mente. Acredito que isso tenha contribuído muito”, afirma a estudante.

A psiquiatra Maila Castro, membro da Comissão de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que quando uma população é submetida a um estresse muito grande — neste caso, a pandemia da Covid-19 — é notado um aumento na prevalência de transtornos mentais, especialmente os mais relacionados ao estresse.

“Num primeiro momento, nota-se um aumento nos transtornos de adaptação e depois nos depressivos, de ansiedade, estresse pós-traumático, casos de comportamento suicida e o agravamento de quadros que envolvem uso de substâncias, como álcool e drogas ilícitas”, cita a médica.

Além disso, a psiquiatra acrescenta que o isolamento social diminui o repertório de atividades as quais podemos recorrer quando sentimos mal estar, como sair com um amigo, ir ao cinema ou fazer atividades ao ar livre. Por isso, as publicações também relatam uma sensação de medo, solidão, tédio e raiva na população, relacionados a uma incerteza diante do futuro.

Castro explica que as mulheres, em geral, são mais vulneráveis a algumas doenças psiquiátricas, principalmente o transtorno depressivo. Ela faz um paralelo da pandemia de coronavírus a um estudo da UFMG, realizado após o rompimento da barragem de Mariana em 2015, que também mostrou que as mulheres sofreram mais com a depressão.

“A explicação vem de uma série de questões. Desde fatores sociais sobre ser mulher até uma predisposição biológica relacionada a ciclos em que as mulheres têm alterações hormonais e estão mais vulneráveis, como o período perinatal e o climatério”, diz.

A psicóloga Amana Mattos, professora associada do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), destaca que em um momento no qual é pedido às pessoas que fiquem em casa, o trabalho doméstico recai principalmente sobre as mulheres, o que também gera consequências para a saúde mental.

“A maioria dos homens parece estar descobrindo um universo distante, assim como as famílias de classe média e alta, que terceirizam essas funções para mulheres pobres e racializadas. Para quem está fazendo trabalho remoto, as tarefas de cuidado atravessam a rotina e principalmente as mulheres têm assumido essas funções. Além disso, os postos de trabalho na área da saúde são ocupados majoritariamente por mulheres. A sobrecarga de trabalho e o risco de contágio têm efeitos psíquicos que não podem ser desconsiderados”, afirma.

da redação, com informações do Globo

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