entregadores são suprimidos, quase nulos, a ciclista paulistana vai na direção contrária. Com ideais sólidos, como figura central de um coletivo de mulheres e LGBTQ+, as Señoritas Courier, ela uniu duas causas, transformando-se numa voz ativa, ouvida e importante.
Primeiro, em ajudar a criar melhores condições de trabalho aos ciclistas, de maneira geral, diante de uma iminente greve de entregadores de aplicativos marcada para amanhã. Segundo, em valorizar pessoas com pouco espaço em serviços de delivery, marcados há tempos pelo ambiente quase 100% masculino. No Coletivo Señoritas, 37 pessoas, entre mulheres e LGBTQ+, têm espaço para trabalhar com entregas.
“A gente quer gerar impacto, para outras mulheres olharem. Quando uma mulher vê outra mulher
pedalando ela acredita que pode pedalar”, disse em entrevista à Coluna Pedala, do portal Uol.
Para atingir tal posição, Aline experimentou por anos as dificuldades de entregar encomendas de bicicleta na cidade de São Paulo. No primeiro trabalho, quando ainda não havia aplicativos, a comandante do Coletivo Señoritas era uma das cinco mulheres de uma empresa de entregas de bicicleta. O ambiente tinha 135 homens.
“No grupo de WhatsApp sempre tinha piadinha, comentário machista, misógino. Quando via, ia para cima, eu arrumava encrenca. Durei bastante por causa disso. Foram quase dois anos”, contou Aline, que à época ainda conciliava o trabalho de professora universitária.
Ela deixou a empresa para se dedicar a uma outra paixão, a fotografia. Mas, de repente, a bicicleta voltou à tona quando ela passou a fazer trabalho de entrega nas horas vagas para o estúdio em que trabalhava. Daí surgiu a semente para o coletivo.
“Havia muita demanda e eu não conseguia atender todas. Coloquei uma história numa rede social, falei que queria passar a demanda para outras pessoas. Dez mulheres responderam e falaram que fariam o trabalho.
Então criei um grupo de WhatsApp, foram as dez primeiras”, explicou Aline, que frisa que tudo aconteceu de forma natural.
Hoje, o grupo das Señoritas, que não tem sede fixa, soma 37 mulheres e LGBTQ+. São 14 ciclistas ativas.
De três a cinco estão nas ruas diariamente para fazer entregas. O carro-chefe é o setor de cosméticos,
embora haja serviço em cartórios e, com menos frequência, de comida.
Os valores das entregas são cobrados por distância, tempo e entrega avulsa. Além disso, não há distância limitada. Segundo Aline, é o cliente quem determina isso. Durante a pandemia do novo coronavírus, o serviço é quatro vezes maior.
“Estudei medidas de segurança e decidi fazer entregas. O negócio cresceu, surgiram clientes. Pulamos de 50 entregas por mês até abril para 200 em maio. Junho, até dia 18, foram 230 entregas”, ressaltou.
Aline hoje divide a função de entregadora com a de comandante da operação. Mas nem por isso deixa de pedalar entre 40 e 50 quilômetros quando vai às ruas.
Preocupação com direitos também existe
Ciclista há anos, Aline enxerga a bicicleta como um meio de transformação pessoal e coletivo. Em 2015, quando passou a pedalar com mais frequência, ela viu a bike se tornar uma aliada. “A ideia de pedalar na cidade me agradava muito, me fazia bem. Esses momentos em cima da bicicleta me deixavam bem”, afirmou.
Hoje, na posição de comandante de um coletivo, Aline ainda enxerga distorções no mercado de entregas, com desvalorização dos ciclistas. E busca inverter essa tendência.
“Como precarizam um bem tão importante que é a bicicleta? Por que pagam mais para caminhoneiro, mais para o cara que faz o transporte de carro. Por que não paga bem para alguém que pedala, que gasta a energia dela? Por que a pessoa que vai de bicicleta ganha menos?”, questionou.
“Minha bandeira é melhorar as condições de trabalho desses profissionais. Quem faz entrega de bicicleta está à frente de uma mudança que é necessária para a cidade”, completou Aline.
Do Uol