Desbravadora do universo feminino na música, centenário de Elizeth Cardoso é pura nostalgia

By 16 de julho de 2020Brasil, Lute como uma garota

Se estivesse viva, a cantora carioca Elizeth Cardoso estaria completando 100 anos hoje. Já são 30 anos sem o talento, a voz e a marca dessa estrela, que também era conhecida como Divina. Mais apropriado, impossível.

Elizeth Cardoso marcou uma trajetória importante na música brasileira, seja por ter transitado por diferentes e novos ritmos, seja por ter ajudado na abertura de portas para novos artistas e compositores, inclusive, mulheres, num período em que elas não tinham espaço nesse cenário.

A música sempre foi algo natural para Elizeth. Nascida em uma família de artistas, ainda na infância se encantou pela arte e lutou contra todas as barreiras para seguir no ofício que sonhou. “Desde que eu nasci, no Rio de Janeiro, em 1920, minha vida sempre foi cercada de música. Meu pai era seresteiro e minha mãe adorava cantar. Mas a vida não era só festa. Era dureza também. Falta de dinheiro. Comecei a trabalhar com 10 anos. Fiz de tudo um pouco, vendedora de cigarros, operária de fábrica de sabão, costureira de uma peleteria, cabeleireira”, afirmou em uma entrevista recuperada no projeto Heróis de Todo o Mundo, com narração de Zezé Motta.

O trabalho profissional na música começou em 1936, com ajuda de Jacob do Bandolim que a apresentou para os responsáveis pela Rádio Guanabara. Na estreia, apresentou os sambas Do amor ao ódio, de Luís Bittencourt, e Duas lágrimas, de Benedito Lacerda. No início da carreira seguiu pelo estilo musical muito por conta da formação musical: cresceu em meio aos blocos carnavalescos e as rodas na casa de Tia Ciata.

Com o tempo foi incorporando outros ritmos. Fez parte da Era de Ouro da Rádio e participou do início da bossa nova. O disco Canção do amor lançado por Elizeth em 1958 com composições de Vinícius de Moraes e Tom Jobim com acompanhamento de João Gilberto no violão é considerado o marco inaugural da bossa nova, mesmo que tenha bebido da fonte do samba-canção, gênero em que a carioca se tornou uma das pioneiras e representantes.

Ao longo da carreira, conviveu e firmou amizade com grandes nomes da música, trabalhando com a nata do cancioneiro brasileiro, que incluía nomes como Noel Rosa, Grande Otelo, Clementina de Jesus, Pixinguinha, Ary Barroso, Candeia, Cartola, Nelson Cavaquinho, Baden Powel e Nara Leão. Ary Barroso fez diversas músicas para Elizeth, incluindo É luxo só, escrita a pedido da própria cantora.

Durante quase 70 anos de trajetória musical, a cantora reuniu mais de 80 discos, se tornando uma das maiores vozes do choro, do samba-canção, e da bossa nova. Por todo seu legado à música brasileira, ganhou apelidos como “a noiva do samba-canção”, “lady do samba”, “Machado de Assis da seresta”, “mulata maior”, “a magnífica” e “a enluarada”, mas nenhum deles se tornou tão popular quanto Divina, dado pelo ator e produtor Haroldo Costa.

Elizeth Cardos faleceu em maio de 1990, vitimada pelo câncer de estômago.

 

com informações da revista Rolling Stone

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