Que o uso excessivo de telas traz prejuízos à vida dos pequenos não é mais novidade. Mas, em tempos de quarentena, com aulas acontecendo de forma remota, as interações com amigos e familiares passando a acontecer de maneira virtual, surge aí novas formas de se relacionar tendo como base celulares, tablets e computadores. Além disso, a exposição às telas em muitas casas têm sido como uma espécie de babá para que pais consigam dar conta das atribuições domésticas e do home office.
De acordo com um estudo indiano, uma média de 65% dos pequenos estão viciados em dispositivos e são incapazes de manter distância deles mesmo que por 30 minutos. A terapeuta ocupacional do Hapvida em João Pessoa, Talita Veloso, alerta que o uso das telas pode provocar danos ao desenvolvimento das crianças a curto, médio e longo prazo. “A curto prazo é a diminuição da interação social, principalmente no caso de celulares e tablets. A médio e a longo prazo, alguns estudos associam o uso excessivo desses aparelhos eletrônicos a aprendizagem deficiente, déficits de atenção, impulsividade, agressividade, sedentarismo, obesidade, distúrbios do sono e da visão”, elenca a especialista.
O Manual de Orientação #MenosTelas #MaisSaúde da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) oferece a pais e responsáveis orientações sobre a utilização de telas e internet por parte de crianças e adolescentes. Em meio às orientações, estão a de evitar a exposição de crianças com menos de dois anos; limitação de uma hora por dia para crianças de dois a cinco anos; de duas horas por dia para crianças entre seis e 10 anos; e em até três horas por dia para crianças e adolescentes entre 11 e 18 anos.
Na contramão do que propõe a SBP, uma do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), com 900 crianças de quatro a seis anos de idade, apontou que 55% das crianças avaliadas faziam refeições assistindo televisão e 28% passavam longos períodos utilizando as telas. A pesquisa identificou também que o uso excessivo de tela aumentou o risco de as crianças apresentarem habilidades motoras pobres, além de promover a inatividade física e contribuir para diminuição das horas de sono.
Diante de tais números, Talita Veloso explica que “o tempo que as crianças dedicam às telas, quando excessivo, limitam que os pequenos vivam experiências corporais consideradas de suma importância para o aprendizado durante a infância”. A especialista ressalta ainda que celulares e tablets são dispositivos que podem ficar muito próximo aos olhos das crianças e isso pode facilitar o surgimento precoce de distúrbios visuais naquelas com tendência a desenvolvê-los.
Buscando a saída – Apesar de toda dificuldade, a especialista reforça que é preciso buscar saídas para essa realidade, buscando envolver as crianças com atividades que possam contribuir para o desenvolvimento. “No caso de crianças que já têm uma compreensão, os responsáveis podem ressaltar e participar de outras brincadeiras, mostrar que brincar com os irmãos é tão divertido quanto um jogo de celular”, pondera.
Porém, nem toda família tem mais de um filho para seguir a recomendação da especialista e nesse período de quarentena é preciso se reinventar para possibilitar uma diminuição no tempo dos pequenos às telas. Isso é o que tem feito a estudante de pós-graduação Patrícia Medeiros com sua filha de quatro anos, Alice Medeiros. “Alice é filha única e antes da quarentena tinha contato constante com os primos, mas com o distanciamento social, já faz mais de 100 dias que ela não os vê e precisamos buscamos alternativas para a falta de contato com outras crianças, sem o uso excessivo e abusivo das telas, buscando sempre a saúde e o bem-estar dela”, refletiu a mãe, que também é assistente social.
Patrícia disse que ao longo desse período tem realizado atividades de pintura em gesso, cartolina e livrinhos específicos para desenhos. “Ela faz uns desenhos lindos e coloca neles o nome dos primos, tios, o meu, o do pai. Mas a maior alegria desse tempo longe das telas foi vê-la escrever o nome”, relata.
Já para quem tem filhos que, diferente de Alice, não conseguem entender que há um tempo determinado para usar as telas, seja para assistir o desenho preferido ou jogar alguns games, Talita Veloso sugere a utilização de algumas estratégias como aos poucos diminuir o volume ou o brilho da tela da televisão, tornando a atividade desinteressante.
Contudo, tenha a criança entendimento das coisas ou não, a terapeuta enfatiza que os pais devem oferecer alternativas de brincadeiras ou atividades que despertem o interesse da criança. “Dançar, pintar, brincar com texturas diferentes, ouvir histórias, entre outras possibilidades. É primordial estabelecer uma rotina. O adulto pode montar com a participação da criança, no início de cada dia um cronograma das atividades, contendo os horários e as atividades que serão feitas em cada horário. Para crianças que não desenvolveram a leitura ou crianças com Transtorno do Espectro Autista podem-se utilizar fotos ou figuras”, sugere.
da redação, com assessoria