Esther era uma menina boliviana de apenas 9 anos de idade. Morando com a mãe e as irmãs mais novas num apartamento de apenas um cômodo, Esther ficou cuidando de uma das irmãs enquanto sua mãe saiu para vender frutas. Assim como 60% da população boliviana, a família vive do trabalho informal.
Horas depois, o corpo de Esther foi encontrado numa esquina, já sem vida. Na autópsia, que identificou a morte por estrangulamento, foi confirmado que a menina também sofreu violência sexual. Casos como esse, quando vêm à tona, representam o extermínio de crianças e adolescentes e que na grande maioria das vezes, são silenciados.
O caso aconteceu no início do mês de julho e gerou revolta na população local. A violência contra Esther já é parte do contexto social das meninas latino americanas, que foi cruelmente agravado pela pandemia do Coronavírus.
De acordo com Célia Taborga, representante do Fundo das Nações Unidas para a População, o caso da menina assassinada em El Alto, vizinha à capital La Paz, é uma amostra da vulnerabilidade sofrida por muitas meninas e adolescentes na América Latina.
Publicamos aqui um alerta sobre a vulnerabilidade de crianças e adolescentes que passaram a conviver diuturnamente com seus agressores. Países que estão passando por instabilidade econômica, política e social tendem a tornar a vida dessas crianças ainda mais difícil. É o caso da Bolívia, que teve a eleição presidencial comprovadamente fraudada, e é o caso do Brasil.
Na opinião de Celia Taborga, também afirma que vários casos semelhantes têm menos destaque ou nem são registrados no país. “Há subnotificações, não apenas por causa da quarentena, mas porque a violência sexual nem sempre é denunciada. Realmente, não temos ideia da amplitude da violência sexual sofrida por meninas na Bolívia”, diz ela.
Célia acrescenta que o problema não afeta apenas meninas e adolescentes, mas mulheres em geral.
A Procuradoria-Geral da Bolívia informou que, nos dois primeiros meses da quarentena, foram registrados 2.935 casos de violência contra mulheres, incluindo agressões, abusos, estupros e estupros de menores.
No entanto, o órgão reconheceu que os números podem ser muito maiores, pois é provável que “devido às medidas de emergência de saúde, as vítimas não tenham conseguido registrar a denúncia”.
Segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) de 2019, a Bolívia foi o país em que mais mulheres foram assassinadas na América do Sul.
E os números do primeiro semestre de 2020 (53 assassinatos) excedem os do mesmo período do ano anterior.
Os suspeitos do assassinato de Esther foram presos.
Da redação, com BBC Brasil