Relembre a talidomida, a “cloroquina” do século passado que destruiu famílias

By 19 de julho de 2020outubro 14th, 2020Brasil

Primeiro foi a cloroquina. Depois a invercmitina. E enquanto a próxima cura milagrosa contra o coronavírus não chega, estamos em meio à meia dúzia de “especialistas” e uma comunidade médica gigantesca correndo por uma vacina, e uma provável cura.

Sem comprovação científica, mas com forte apelo presidencial e de setores bastante específicos, esses medicamentos, além de não curar os doentes mais graves, podem desenvolver sintomas ainda mais perigosos para quem está em estado grave em decorrência da Covid-19.

Brasileiros costumam ter memória fraca, e poucos lembram de uma tragédia que marcou a vida de famílias e crianças em escala mundial, e que se deu pela falta de estudo, irresponsabilidade, ego e ganância da indústria farmacêutica: a talidomida.

A talidomida era remédio que inicialmente havia sido comercializado como sedativo na Europa, no fim dos anos 1950, e depois para aliviar náuseas durante a gravidez. Nos anos 1960, o medicamento era acessível em dezenas de países.

Meses depois que milhares de mulheres grávidas fizeram uso do medicamento, a realidade trágica surgiu diante de todos: a talidomida causava danos graves aos fetos.

Embora não tivesse sido submetido aos testes de segurança necessários, o medicamento já era comercializado.

criança vítima da talidomida nos anos 60

Foram ao menos 10 mil crianças que nasceram com diversas malformações. Alguns sem braços, outros sem pernas. Muitos outros morreram no útero. No Brasil, centenas de crianças foram atingidas pela tragédia.

“Muitos dos que tomaram o medicamento, incluindo um grande número de crianças, sofreram uma morte agonizante”, lembrou o Washington Post numa matéria da época.

A talidomida atingiu famílias em mais de 45 países.

Nos anos 1950, os cientistas e os profissionais de saúde não sabiam que um remédio poderia ultrapassar a barreira placentária e causar danos aos fetos, por isso não havia controle estrito de medicamentos durante a gravidez.

não há efeitos comprovados para o uso da hidroxicloroquina

A farmacêutica Merrell, como outras companhias à época, não realizaram testes suficientes.

Mas foi a teimosia de uma mulher que evitou uma catástrofe ainda maior.

Frances Oldham Kelsey era médica e já havia estudado como medicamentos atingiam fetos. Quando o medicamento tentou a aprovação para seu uso nos Estados Unidos, Frances bateu o pé: considerou que a farmacêutica parecia se basear mais em depoimentos do que em resultados de estudos bem desenhados ou provas clínicas. Por isso pediu mais informações antes de autorizar ou não sua comercialização nos EUA.

A companhia apresentou mais dados e, ao mesmo tempo, começou uma pressão pública contra Francis, com cartas, telefonemas e visitas de executivos da Merrell. Ela foi chamada de exigente, teimosa e irracional.

Frances Oldham Kelsey: “exigente, teimosa e irracional”

A pesquisadora manteve sua postura de rejeitar as evidências apresentadas pela Merrell até que em fevereiro de 1961, ela leu um artigo na revista especializada British Medical Journal no qual um médico relatava efeitos adversos em braços e pernas de pacientes associados à talidomida.

Isso não apenas aumentou a preocupação de Francis como também a levou a pedir provas de que o remédio não era danoso aos fetos. Meses depois viriam à público relatos devastadores na Europa e na Austrália.

Após diversas tentativas, a Merrell desistiu de entrar no mercado americano. Mesmo assim, quase 20 crianças americanas haviam nascido com efeitos colaterais da talidomida porque o remédio foi distribuído legalmente para fins de pesquisa.

O medicamento foi vendido em 49 países e levou cinco anos para que fosse estabelecida uma conexão entre a talidomida tomada por grávidas e o impacto em seus filhos. Ela só foi retirada do mercado em 1961.

Organizações de famílias afetadas foram criadas em diversos países para exigir justiça, e alguns sobreviventes receberam indenizações.

No Brasil, vítimas da talidomida ganharam direito a indenizações pelo governo brasileiro em 2010. O governo foi responsabilizado porque, diferentemente de outros países, que retiraram a droga de circulação em 1961, o Brasil só suspendeu o uso do medicamento para este fim quatro anos depois.

Segundo estimativas de 2010, 650 brasileiros se qualificavam para receber compensação financeira.

pode ser apenas uma balinha tic tac

Dá pra associar a tragédia da talidomida ao que acontece hoje com a cloroquina e a invercmitina? A verdade é que não sabemos. O que sabemos é que esses medicamentos não tiveram seus benefícios comprovados e não temos ideia dos efeitos colaterais a longo prazo.

 

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