O caso da jornalista da Globo demitida após denunciar assédio moral do chefe

Ellen Ferreira, era repórter e apresentadora de um jornal da afiliada da TV Globo. Ao contrair o novo coronavírus, precisou se afastar do trabalho. Depois dos 14 dias de atestado, foi recebido com uma demissão. Na justificativa, uma reestruturação”, que Ellen desmente: ela acredita que o motivo por trás da demissão seria outro, e suspeita estar sendo vítima de perseguição, por ter denunciado um ex-chefe de jornalismo do canal, Edison Castro, por assédio. Ellen trabalhava na Rede Amazônica, afiliada da TV Globo.

Ellen Ferreira com William Boner

“Óbvio que o que aconteceu foi uma perseguição. Eu estava havia uns três meses, junto com outros funcionários, levando para o Sindicato dos Jornalistas do estado e para o Ministério Público do Trabalho situações graves de assédio sexual e moral que enfrentamos lá dentro. Situações vexatórias, de racismo, homofobia, gordofobia. Ele é um psicopata”, disparou.

Ferreira, que apresentou o “Jornal Nacional” em 2019 – durante um rodízio de jornalistas feito em comemoração dos 50 anos do telejornal. A profissional ainda declarou não ter recebido nenhum tipo de suporte de outros chefes dentro da Rede Amazônica, não vendo outra saída a não ser procurar o próprio Ali Kamel, diretor geral de jornalismo da TV Globo, para relatar os casos. Segundo ela, nem assim conseguiu uma resolução e somente no dia 29 de junho, graças às denúncias feitas no Ministério Público do Trabalho e no Sindicato dos Jornalistas, Castro foi desligado do cargo.

Ela não imaginava, entretanto, que também diria adeus ao emprego. “Ainda estou muito magoada. Não sei quais os próximos passos que
vou dar. A realidade é que hoje estou desempregada. Eu sou renda dos meus pais e dos meus irmãos. Como vai ser daqui para a frente?
Não quero nunca mais olhar para ele (Edison). Quando falo dele, ainda tremo. Ele acabou com a minha carreira”, desabafou.

A jornalista ainda pondera sobre abrir algum processo na Justiça contra Edison. “Assédio é grave, as pessoas não podem se calar.
Precisava lutar por mim. Minha autoestima e vontade de viver estavam acabando. A Globo achou que eu era um peso, mas eu faria tudo de novo. Como alguém tão doente é líder do jornalismo? Só queríamos que ele saísse para sentir paz. Seguir adiante com essas denúncias é um caso a se pensar”, afirmou.

Dossiê foi apresentado ao Sindicato dos Jornalistas

Ellen fez mais acusações contra o ex-diretor de jornalismo. “Ele debochava de um repórter que era gay. Chamou o cabelo de uma repórter negra de ‘moita feia’. Ele dizia que eu era repugnante, gorda, que me vestia mal. Me ameaçava de demissão constantemente. A fama dele era de ‘João de Deus da redação’”, comentou.

Com a ajuda de outros funcionários afetados pelos atos de Edison, um dossiê foi montado, e enviado ao Sindicato dos Jornalistas de
Roraima (Sinjoper). Ferreira ainda mencionou que mesmo após o desligamento, o ex-diretor ainda tinha infuência na empresa, e por isso
ela foi demitida.

“Meu sonho foi interrompido. Eu estava escalada para apresentar o ‘Jornal Nacional’ mais duas vezes esse ano, mas foi adiado por conta
da pandemia. Agora, estou demitida”, lamentou. A apresentadora, por outro lado, não se arrepende de ter feito as denúncias. “Eu lutei por uma equipe. Fiz o que foi necessário para acabar com aquela palhaçada e faria de novo. Acabaram com meu sonho, mas eu tenho saúde e vou conseguir me recuperar“, concluiu.

Uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal aponta que 80% dos jornalistas e repórteres já sofreram algum tipo de assédio moral ou sexual no trabalho.

 

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