Ela foi abandonada em um orfanato, perdeu seu dinheiro ao ser processada e condenada por ter se disfarçado de homem para poder navegar, mas apesar de todo o revés da sua vida, hoje é conhecida como a primeira mulher a dar a volta ao mundo de navio no planeta (que não é plano) e está sendo homenageada nesta segunda-feira (27) pelo Google.
Jeanne nasceu em 27 de julho de 1740 na vila de La Comelle, na região da Borgonha, no interior da França. Seu registro de batismo resistiu ao longo dos séculos e a identifica como filha legítima de Jean Baret e Jeanne Pochard. Seu pai era trabalhador braçal e, provavelmente, não sabia ler ou escrever, já que não assinou o registro de batismo da filha.
Pouco ou quase nada se sabe de sua infância ou adolescência. O que se sabe sobre sua vida foi o que ela contou para Louis Antoine de Bougainville durante as expedições. Jeanne contou que foi abandonada em um orfanato e perdeu seu dinheiro em um processo por ter se disfarçado de homem para poder navegar.
Apesar de parecer possível que ela fosse órfã devido à baixa expectativa de vida da época, muito pode ter sido inventado para poder inocentar o marido de cumplicidade em seu disfarce.[1] A região da Borgonha era uma das províncias mais pobres da França e é provável que a família de Jeanne fosse também.[2]
O que não se sabe é como Jeanne conseguiu a educação que tinha, já que existem documentos legais assinados por ela, que mostram que ela sabia ler e escrever. Biógrafos divergem sobre como ela poderia ter recebido instrução, se por parte da mãe, que seria uma camponesa huguenote ou se um padre da paróquia local, por caridade, a teria ensinado.
Casou-se com o naturalista Philibert Commerson, que viria a tornar seu marido, que foi convidado a participar da expedição de Louis Antoine de Bougainville e para ela ir junto teve de se disfarçar de homem para poder acompanhá-lo na expedição. Para evitar questionamentos, ela se juntou à tripulação imediatamente antes da partida, para parecer completamente alheia a Philibert.
A expedição
A expedição zarpou do porto de Rochefort no final de dezembro de 1766. Jeanne e Philibert foram designados para a Étoile. Devido à grande quantidade de equipamento que Philibert trouxe a bordo, o capitão do navio, François Chesnard de la Giraudais, entregou sua própria cabine a ele e seu “assistente”. Isso deu a Jeanne maior privacidade que de outra forma não teria em um navio lotado, tendo inclusive um banheiro privativo.
Louis Antoine de Bougainville mantinha um diário da expedição, que é responsável por muitas das informações que se têm hoje sobre Jeanne. Philibert não teve uma expedição fácil, ficando doente várias vezes e Jeanne deve ter passado boa parte do tempo tendo que cuidar dele. Como trabalhava como naturalista a “assistente” foi responsável pela coleta e por carregar suprimentos. No Rio de Janeiro, tudo como perigoso, já que o capelão do Étoile foi morto logo após a chegada, Philibert ficou confinado ao navio até sua perna se curar, mas ainda assim eles conseguiram coletar uma espécie de videira, chamada Bougainvillea, hoje conhecida como primavera.
Na segunda visita ao Uruguai, eles tiveram oportunidade de visitar a Patagônia enquanto os navios esperavam condições mais favoráveis para cruzar o Estreito de Magalhães. Nesta visita, Jeanne ficou famosa por auxiliar Philibert em uma excursão sobre terreno difícil e ficou conhecida por sua coragem, ainda que por seu nome masculino.
Era comum Philibert chamar seu assistente de “burro de carga”, tamanho o volume de rochas, plantas, conchas e animais coletados na expedição que Jeanne, posteriormente, ajudou a organizar e a catalogar nas semanas seguintes, enquanto os navios seguiam para o Oceano Pacífico.
Os relatos divergem sobre o momento em que o sexo de Jeanne foi descoberto pela tripulação. Segundo Bougainville, os rumores de que o assistente de Philibert seria uma mulher começaram a correr depois de um tempo de viagem, mas os rumores só foram confirmados quando eles chegaram ao Taiti, em abril de 1768.
Assim que Jeanne e Philibert chegaram em terra firme, foram cercados pelos nativos que logo apontaram que Jeanne era uma mulher, o que a fez retornar ao navio às pressas. Bougainville registrou o incidente em seu diário semanas depois do que aconteceu, onde teve tempo para entrevistar Jeanne.
Na Maurícia, Jeanne continuou seu papel de assistente de Philibert e governanta. Provavelmente, ambos fizeram várias expedições em Madagascar e na Ilha Reunião. Após a morte de Philibert, Jeanne se estabeleceu na França, casou de novo e começou a receber uma pensão de 200 libras por ano, concedida pelo Ministério da Marinha francês, por sua contribuição com a expedição de Bougainville. Segundo o registro do ministério:
“Jeanne Barré, por meio de um disfarce, circunavegou o globo em um dos navios comandados por Sr. Bougainville. Ela dedicou-se, em particular, a ajudar o Sr. Commerson, naturalista e botânico, e compartilhou com grande coragem os trabalhos e os perigos desta jornada. Seu comportamento era exemplar e o Sr. Bougainville se refere a ela com todo mérito … Sua Senhoria tem sido gentil o suficiente para conceder a esta extraordinária mulher uma pensão de duzentas libras por ano a ser retirada do fundo para militares inválidos e esta pensão será paga a partir de 1 de Janeiro de 1785”.
Jeanne faleceu em 5 de agosto de 1807, em Saint-Aulaye. As informações são do Wikipedia.