Como boa campinense de criação, está em minhas melhores memórias, as festas de São João e o forró, e Pinto do Acordeon representa essa nostalgia. “Eita vida boa aperriada!” tem uma das letras mais simbólicas e representativas do amor cantado em forró:
“Pra que tanto dinheiro
Sem o seu amor
Pra que tanto frio
Sem o seu calor
Pra que tanta mulher
Se você não está aqui
Pra que chorar
Se é melhor sorrir
Pra que tantas estrelas
Brilhando no céu
Pra que tanta amargura
Se você é mel
Pra que tanta esperança
Se você não vem
Pra que tanto ódio
Se eu te quero bem”
Pinto do Acordeon faleceu em julho deste ano, depois de convalescer por um câncer. Além da perda de um grande cantor e poeta, ainda sentimos a melancolia de não termos vivido o São João e tudo o que ele nos representa. A pandemia nos tirou a festa e o refrão mais significativo de quem, depois de um dia de trabalho pesado, dançava no Parque do Povo ao grito de “Eita vida boa aperriada!” tentando esquecer que no dia seguinte, teria batente novamente.
A primeira demonstração de respeito à cultura e à memória do país do governo Jair Bolsonaro acontece justamente para homenagear a vida e obra de Pinto do Acordeon, que irá se tornar, nesta terça-feira, 1º de setembro, Patrimônio Cultural do Brasil, de acordo com informações do seu filho Mô Lima. A homenagem é justa sim, mas o gosto não é bom.
Pinto do Acordeon, um poeta que entendia e retratava as alegrias e agruras de ser nordestino, se equivocou no posicionamento político. Não imaginamos quais motivos o levaram a prestar um apoio tão sólido à um político que fez muito pouco, ou quase nada pelo Nordeste.
A homenagem à Pinto do Acordeon, feita por Bolsonaro, e organizada por um ex-ator que nem conseguimos lembrar de um único papel relevante. Mesmo alinhado ao governo Bolsonaro, Pinto merecia uma reverência mais justa e mais compatível com sua história. Essa, veio com gosto de fel.