Nossa série de entrevistas com pré-candidaturas LGBTQI+ segue firme e hoje temos mais um nome para apresentar:
Adjany Simplicio é feminista, mãe, pedagoga, professora da educação básica, com especialização em educação em Direitos Humanos, bissexual, batuqueira, entusiasta da cultura popular, especialmente a nordestina. Nasceu em Natal – RN, e está perto de completar 43 anos. Adjany têm sua história fincadas nas raízes do interior do Rio Grande do Norte, terra dos seus pais: o pai é de João Câmara e a mãe natural de Canguaretama. Em 1999 mudou-se para Belo Horizonte, onde viveu até 2013, quando chegou em João Pessoa, cidade que a encantou.
Já trabalhava como professora da educação básica concursada em São João Del Rei e ao chegar aqui em João Pessoa, realizou concurso público e ingressou na rede municipal. O envolvimento na militância em defesa da educação pública acontece desde a graduação, quando passou a sentir a experiência do descaso com a o ensino público na formação e também a partir do contato com o chão da escola. Chegando em João Pessoa, sentiu as inúmeras ausências da rede municipal, especialmente quanto a gestão democrática e a atenção aos conteúdos transversais. Por reconhecer a importância do pedagógico como elemento político, pois não há neutralidade no conhecimento e na informação, Adjany começou a expandir a militância no fortalecimento das perspectivas antirracista, antilgbtfóbica e antissexista. Em João Pessoa, se “batizou” como uma mulher bissexual feminista e engajada em espaços e ações que tivessem como objetivos mudanças sociais concretas, com transparência. Atualmente é filiada ao PSOL e tem em Marielle Franco, um exemplo fundamental de luta a ser seguido.
Por que você decidiu concorrer à uma vaga na Câmara Municipal?
O amadurecimento político foi me conduzindo às disputas eleitorais e ao fortalecimento da organização das mulheres no partido. Não há mudança nem melhoria sem a participação efetiva de Mulheres nos espaços. Isso é um fator estruturante de representação e de eficiência democrática. Mas esse não é o único fator que devemos fazer defesa explicita e fundamental, os espaços de decisão devem priorizar a participação expressiva dos seguimentos silenciados nas estruturas como as conhecemos, pessoas negras, LGBTQIA+ e com deficiência devem compor, disputar e construir as estruturas partidárias, comunitárias e os espaços de poder. É por isso que decidi concorrer a uma vaga na câmara municipal de João Pessoa. A minha voz e minha força está a serviço desses seguimentos, sou uma mulher determinada a seguir na defesa da representatividade e da visibilidade das mulheres e quero que outras estejam comigo nesse projeto.
Parlamentares com perfil LGBT ainda são raras exceções. Como pretende lidar com a lesbofobia institucional, especialmente num cenário político cada vez mais conservador?
As estruturas, como a conhecemos (câmaras, instituições públicas, mandatos executivos), são excludentes, operam com vários signos que impedem a participação das Mulheres, das pessoas negras, LGBTQIA+ e com deficiência. Nossa representação é menor que a mínima necessária, um desrespeito e uma ameaças à nossa existência. Mas temos que ter clareza de que para ter uma câmara representativa – e (des)construir as estruturas como nós queremos – não é aceitar qualquer proposta política. As candidaturas do campo conservador nunca irão dialogar com os movimentos sociais ou nos representar. Nós, mulheres feministas, antirracistas, antilgbtfóbicas, anticapitalistas, inclusivas, progressistas, de esquerda e populares temos que apresentar nosso projeto e expor a ênfase do sério compromisso deste com uma mudança na perspectiva do poder, com a utilização da câmara em negrito para benefício da população e não dos grupos que nos espoliam e excluem.
Quais os maiores desafios que você enfrentou até decidir concorrer?
É difícil se colocar na disputa eleitoral estando num partido sem muitos recursos financeiros, especialmente porque isso se traduz em ter menos espaço na mídia para divulgação do nosso projeto, os espaços de publicidade que tem maior alcance – não por acaso – divulgam apenas as campanhas que concorrem pela permanência dos acordos de exclusão e dos projetos de opressão que também os beneficiam. Mas somos o contraste, a diferença para fazer de forma transparente, sem defesas escusas, a construção da cidade que queremos. E isso também amedronta os donos do poder machista, porque não temos acordos a perder, a gente vem, de cara limpa e coração valente, disputar as eleições para construção do poder feminista e popular.
Quais são suas principais bandeiras de luta, e como pretende trazer essas pautas para o trabalho na Câmara Municipal?
Dentre as bandeiras destaco a luta por direitos e ampliação/qualificação da oferta de serviços públicos para as mulheres, população negra e LGBTQIA+; a defesa do SUS, na rede de atenção básica à saúde, particularmente sobre proposituras de melhoria no atendimento a saúde da mulher (hétero, não-hétero e pessoas com útero ou em transição) e das crianças; a melhoria da qualidade do ensino público, trabalhando na construção de um projeto antirracista, antilgbtfóbico e antisexista, que contemple a história afro-brasileira e indígena, que inclua, com o devido respeito e cuidado, as crianças e adolescentes com deficiência; o desenvolvimento de alternativas para a acessibilidade e mobilidade urbanas; e a promoção de políticas que ampliem as possibilidades de geração de emprego e renda para as mulheres e LGBTQIA±. Essas pautas serão defendidas no exercício do mandato provocando discussões no plenário, e em outros espaços públicos, com a participação popular; realizando com transparência e seriedade o trabalho de fiscalização dos atos do executivo municipal e buscando diálogo com as comunidades, nos bairros, movimentos e organizações, para a defesa de suas especificidades.
Saiba mais sobre Adjany Simplício em seu perfil: @adjany.simplício