Luana Mafra tem 22 anos e desde muito jovem foi inquieta, sempre se revoltou com injustiças e nunca se calei diante de opressões, mesmo quando ainda não sabia destes termos. Já “brigava” muito, e sua mãe dizia que era “arengueira”. Essa menina arengueira já se sentia incomodada com o machismo estrutural, quando por exemplo, observava dentro de casa quando a mulher fazia serviço doméstico e o homem não, ou respondendo a frases homofóbicas nos espaços em que convivia. Sempre foi muito atrevida, mas ao mesmo tempo muito tímida, o que era verdadeiramente uma luta interna para falar, mas falava pois ficar calada era impossível diante as injustiças. No ensino médio, se envolveu nos mais diversos atos, greves, movimentações populares de Caicó- RN, cidade em que nasceu. Ainda de forma não organizada e muitas vezes puxada pela iniciativa de professores, falou em atos e em espaços de reuniões políticas. Ela lembra de 2013, quando o Brasil passou por gigantescas passeatas, e foi desde então que nunca mais parou de se envolver intensamente no debate político. Em 2016, tomou a decisão de vir morar em Campina Grande. Se apaixonou pela cidade, pelo clima, pelas pessoas,
não só para estudar, mas por querer viver e estar fazendo a vida na cidade. Na Universidade, logo fez parte da fundação do centro acadêmico do meu curso, sociologia – licenciatura na UEPB. Já dentro do movimento estudantil universitário, mas ainda de forma não
organizada, conheceu o Movimento Correnteza no CONUNE de 2017, mas só entrou para o movimento no final de 2018. Depois
entrou para UJR, União da Juventude Rebelião e para a Unidade Popular, partido do qual hoje faz parte e é vice-presidente no município de Campina Grande.
Por que você decidiu concorrer à uma vaga na Câmara Municipal?
Meu partido visualizou, depois de vários debates com os filiados, com a diretoria e com os militantes, que colocar meu nome como candidatura da juventude, das mulheres e do povo LGBTQIA+ seria de extrema importância e combatividade diante do atual cenário político conservador e ainda mais para ocupar a câmara dos vereadores de Campina Grande, onde dos 23 vereadores, apenas 1 é mulher mas que infelizmente fecha com todas as políticas atrasadas propostas pela estrutura machista, patriarcal e elitista que se apresenta no país inteiro e que perpetua uma história de opressão, corrupção e descaso com o povo na cidade Campina Grande. A minha candidatura não é só minha, ela é de toda a Unidade Popular, é um corpo de muitas cabeças, mãos e pernas trabalhando para um único objetivo: propagar a ideia de uma política feita pelo povo, para o povo e mostrar que é possível colocar gente como a gente no poder. É uma decisão de urgência! Urgência em ver o povo ocupando os espaços de decisão desse país, urgência em denunciar e expulsar as oligarquias que sugam as riquezas e o poder da população brasileira, urgência em ter o povo fazendo política para e pelo povo. Não
mais as elites, não mais os coronéis, a partir de agora começa o povo a tomar o poder em todos os espaços, pois eles são nossos! Elite não é povo. Elite não faz pelo povo. Elite nunca representará o povo.
Na sua opinião, qual a importância de ter uma mulher feminista ocupando um espaço de poder?
O feminismo é uma questão da garantia da vida das mulheres, nada mais é do que lutar pela equidade de direitos e pela justiça diante das tantas formas de machismo e de opressão sofrida pela mulher. Nós somos subjugadas diversas vezes na sociedade, espaços de decisões e de poder diversas vezes nos são negados. E se você for mãe, preta, pobre… enfim, vai ficando cada vez mais difícil, pois a sociedade e o abandono paternal tira da mãe o direito de ser indivíduo, se for preta o racismo se alinha ao machismo e, sendo pobre, cada vez mais é situada em espaços de dominação. A bandeira de luta pelos direitos das mulheres tem que estar hasteada e cada dia mais firme, pois sempre que a política fundamentalista religiosa e conservadora dos homens engravatados avança, o primeiro direito colocado em jogo são os direitos do povo pobre e principalmente os das mulheres. Sempre que o conservadorismo avança, avança também a violência contra as mulheres, o machismo e as mais diversas formas de opressão. Então, na minha opinião, as bandeiras de luta das mulheres é uma pauta de vida, de garantia de direitos e de resistência as opressões, não há como fazer política sem um feminismo de resistência.
Dentro da sua trajetória, quais as maiores dificuldades que você encontrou até se firmar pré-candidata?
Desde que entrei na universidade até aqui, sou bolsista e dependo da permanência estudantil para conseguir me manter estudando e vivendo as mais diversas formas de se viver Campina Grande. Logo quando cheguei aqui, foi muito difícil me manter, mas diferente de inúmeros estudantes que se submetem a uma assistência estudantil e por falta de condições desistem de tentar se formar, eu consegui passar mesmo ficando na lista reserva, fui chamada pela desistência de uma estudante. Sou moradora da residência universitária, sou bolsista acadêmica e esse meu envolvimento com a universidade me permitiu ficar em Campina Grande e me desenvolver também politicamente, como cidadã. Hoje, a maior dificuldade é a ansiedade que o sistema capitalista emprega em nós jovens, que nos tira inclusive de espaços políticos, pois o capitalismo forma a nossa cabeça de um jeito tão individual que muitas vezes nos impede de pensar de forma coletiva. Dentro do partido foi muito tranquilo, recebi e recebo muito apoio, sempre incentivada a todo momento e tenho tanto afeto e carinho das minhas e dos meus colegas que as coisas ficam mais tranquilas. O próprio partido entende que é necessário ter mulheres no poder, todos nós entendemos as mais diversas barreiras que são colocadas para as mulheres estarem nesses espaços, então também há uma necessidade de ter mulheres candidatas pela UP para reverter esse projeto misógino de sociedade.
As mulheres representam 52% do eleitorado no Brasil, mas só 15% das cadeiras legislativas municipais são ocupadas por mulheres. Como você analisa esse número?
Esse é um reflexo da nossa sociedade, onde apesar de nós mulheres sermos a maioria da população brasileira, na prática somos minorias em direitos e em representações. Nós sempre lutamos muito para conseguir qualquer direito, nenhum deles foi dado, todos foram
conquistados com muita luta e com muito sangue! Como foi o caso da Maria da Penha, que virou um expoente da luta contra violência contra a mulher depois de sofrer diversas agressões de seu algoz e chegar à quase morte; o como a Marielle Franco, que foi assassinada
pela milícia e o poder político do Rio de Janeiro por defender o povo da periferia, as mulheres e a verdadeira política. Há diversos vídeos em que a Marielle tem que fazer uma fala combativa e de enfrentamento para não ser interrompida por uma câmara de vereadores que
ainda não aceita o fato de mulheres estarem na política. Esses espaços não são projetados para as mulheres, só em 2015 para 2016 foi que fizeram um banheiro feminino no Senado brasileiro! Isso é uma vergonha, é um país que pouco avançou na luta pelas mulheres e contra o machismo. Tivemos avanços, não nego, mas foram poucos diante das nossas taxas de feminicídio, da violência contra a mulher e dos inúmeros espaços de poder sem representação feminina. Esse número é reflexo de um país que ainda faz pouco para combater o machismo, é reflexo de um país que tem como presidente um senhor que diz que mulher tem que ganhar menos, que tem que ser submissa e que sua filha foi fruto de uma fraquejada.
Quais são suas principais bandeiras de luta, e como pretende trazer essas pautas para o trabalho na Câmara Municipal?
As minhas principais bandeiras de luta é que mulheres combativas possam ocupar todos os espaços de poder, trazer a juventude em ação contra o fascismo em ascensão, defender uma educação pública, gratuita e de qualidade, a defesa da existência e a garantia de direito das pessoas LGBTQIA+ e em defesa do povo pobre ocupando as cadeiras deliberativas deste país. Quero construir um mandato que leve a voz do povo de Campina Grande, dos trabalhadores, das mulheres e da juventude para Câmara Municipal através das demandas sociais da cidade que envolve a população oprimida. A partir disso construir projetos de leis que visem o combate a violência contra as mulheres, especialmente a violência lbgtfóbica e pensar projetos de leis que a educação seja um espaço de respeito a diversidade e a igualdade de gênero. Ser uma rígida fiscalizadora do uso dos recursos público e do que é feito na prefeitura de Campina Grande. Ser uma voz de denúncia que o povo pobre possa confiar e construir junto comigo este mandato que é do povo!