Por que o governo Bolsonaro quer destruir a qualidade da alimentação dos brasileiros?

By 18 de setembro de 2020Brasil, Paraiba

Publicamos na última quinta-feira (17), uma pesquisa preocupante do IBGE: Insegurança alimentar atinge mais da metade dos lares paraibanos. Em resumo, mais da metade das famílias paraibanas não tem acesso à alimentação de qualidade. Ainda na quinta-feira, o Governo Federal foi acusado de  promover uma pressão pela alteração do Guia Alimentar para a População Brasileira. O que uma coisa tem a ver com a outra? Tudo, e nós vamos te explicar os motivos.

 

O Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) publicou uma nota nesta quinta-feira (17) em que acusa os ministérios da Saúde e da Agricultura de promoverem uma pressão pela alteração do Guia Alimentar para a População Brasileira.

O documento de referência, editado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Nupens, tem diretrizes para incentivar a alimentação saudável e, segundo a universidade, tem aclamação mundial por parte de organismos internacionais de combate à fome. O guia, em sua edição mais recente, está disponível aqui.

Segundo o Nupens, o ofício encaminhado pela ministra Tereza Cristina veio acompanhado de uma nota técnica, contestando informações presentes no Guia. O documento foca as críticas na definição que os autores do manual fazem aos alimentos ultraprocessados – comidas com alto número de ingredientes e conservantes químicos, e baixíssimo valor nutricional.

Estes produtos, como bolachas, refrigerantes, salgadinhos e macarrão instantâneo, fazem mal à saúde humana e devem ser evitados em dietas saudáveis, segundo o Guia. Agora, o Ministério da Agricultura contesta esta conceituação.

A nota do Ministério da Agricultura é uma piada e uma afronta, leia aqui:

O ofício é assinado pelo Coordenador-Geral do Departamento de Analise Econômica e Politicas Públicas do Ministério da Agricultura, Eduardo Mello Mazzoleni. O representante do ministério argumenta que o guia alimentar induz a população brasileira a uma limitação da autonomia das escolhas alimentares, e que o critério para se apontar uma comida como ultraprocessada  seria cômico.

“As receitas domésticas que utilizam vários ingredientes não podem em hipótese alguma serem rotuladas dessa forma, o que demonstra um evidente ataque sem justificativa a industrialização”, compara a nota. “Pesquisas demonstram que não existem evidências de que o valor nutricional e a saudabilidade de um alimento estejam relacionados aos níveis de processamento, uma vez que existem alimentos processados que contribuem com uma ampla variedade de nutrientes em todos os níveis de processamento.”

Mazzoleni também fez críticas gerais ao documento – definido por ele como um dos “piores” do planeta em sua área. A nota técnica recomenda à ministra que ordene a sua imediata e urgente revisão.

O Nupens alega que a nota técnica omite a vasta literatura científica nacional e internacional acumulada desde 2009, quando a classificação e o conceito de alimentos ultraprocessados foi por ela proposta.

Ainda na nota (veja aqui na íntegra) , o núcleo de pesquisas afirma que as alegações para a alteração apresentadas pelos Ministérios são frágeis e inconsistentes, e que o Guia brasileiro é reconhecido internacionalmente por sua qualidade científica por órgãos internacionais. “Confiamos que o Ministério da Saúde e a sociedade brasileira saberão responder à altura o que se configura como um descabido ataque à saúde e à segurança alimentar e nutricional do nosso povo”, afirmou.

Agora vamos falar de fome.

Ter comida em casa é diferente de ter comida saudável e nutritiva, e não estamos falando aqui de comidas caras e pouco acessíveis. Estamos falando de banana, mamão, abacaxi, tomate, cebola, chuchu, cenoura, batata. Com R$ 10 reais, se compra um sacolão de verduras em qualquer Mercado Púbico de João Pessoa. Comidas processadas são mais caras e são um poço de veneno. Refrigerantes são bombas de açúcar. E a questão vai muito além de um mero aumento de peso. Crianças que se alimentam com processados tem mais chances de desenvolver diabetes, tem risco de baixo rendimento escolar, podem desenvolver gastrite, desnutrição (por carência de vitaminas), anemia ferropriva (falta de ferro) e aumento do colesterol.

O consumo de arroz e feijão caiu nos últimos 10 anos, e o de alimentos processados aumentou. O Guia Alimentar da População Brasileira foi lançado em 2014 numa tentativa de alertar tanto a população, quanto servir de base para o cardápio da merenda escolar de todas as escolas públicas do país.

O ano de 2020 trouxe uma pandemia, o aumento nos preços do arroz, do leite, do óleo, da carne… Trouxe o país de volta ao Mapa da Fome e, com essa nova investida do Governo Federal, a certeza de que existe sim um projeto de morte.

da redação, com informações do Congresso em Foco

 

 

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