Assédio em Campina: empresa ignora as vítimas, fala em desconforto e põe culpa em “excessos do mundo virtual”

By 28 de outubro de 2020Lute como uma garota, Paraiba

Passada quase uma semana depois da denúncia de assédio numa loja de iluminação em Campina Grande, só na noite da terça-feira (27), alguém, em nome da loja, resolveu se pronunciar: ignorando as vítimas, falando que as denúncias causaram desconforto e que a culpa são dos “eventuais excessos do mundo virtual”.

Apesar de terem os contatos da redação do Paraíba Feminina, uma nota foi postada num grupo de whatsapp.

A nota, que você confere logo abaixo, fala em “suposto assédio”, diz que foi apenas uma vítima, afirma que a direção adotou todas as medidas necessárias para enfrentar o problema, que a loja se colocou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos necessários e que adotou políticas internas entre as pessoas e à equipe de profissionais. Esse último ponto é curioso porque divide os seres humanos em duas categorias: pessoas e equipe de profissionais.

Mas o fato é que essas afirmações foram todas contestadas pelas vítimas.

“Primeiro que não foi um ‘suposto’ assédio pois o cara (o vigilante) admitiu pra ele (o responsável) o que fez, e isso aconteceu em 2018. Também não teve só uma vítima e eles me enrolaram para não passar os dados do cara, pra eu não denunciar, tenho todos os prints de conversas em que peço isso”, afirma uma das vítimas.

Algumas pontas ainda estão soltas:
1. A nota não foi encaminhada para nenhuma das vítimas (que são conhecidas pelos responsáveis da loja);
2. A nota não foi encaminhada para o Paraíba Feminina, apesar dos insistentes pedidos para que dessem sua versão;
3. Não sabemos, até o momento, se a nota representa realmente a empresa, uma vez que não está assinada e não foi enviada por nenhum dos responsáveis;
4. A nota não explica, por exemplo, o que o vigilante acusado estava fazendo numa foto com outros funcionários da empresa, publicada em 2 de outubro de 2020;
5. Recebemos prints, de ex e atuais funcionárias, que comprovam que o vigilante acusado continuou trabalhando no mesmo local em 2018, em 2019, e em 2020, esse último, publicado num storie do Instagram da própria loja.

A nota ainda culpa os excessos do mundo virtual. Talvez o excesso, nesse caso, seja da própria empresa, que não atentou para o fato de que fazer uma publicação com um acusado de assédio sexual, ao lado de outros funcionários, fosse passar despercebido.

Confira a nota:

Nossa história, nossos valores

Há mais de 11 anos, a Vivaz vem consolidando uma imagem em Campina Grande e na Paraíba de qualidade nos serviços prestados, boa relação com a clientela e a sociedade, além do zelo por princípios éticos elevados. Portanto, sente-se no dever de revelar tentativas veladas, detectadas nas redes sociais, trazendo à tona fato lamentável ocorrido há mais de três anos, o que tem ajudado a confundir a opinião pública e, especialmente, a rede de confiança estabelecida com muito trabalho ao longo de mais uma década.

Para sermos bastante objetivos: em meados de 2017, houve denúncia de um suposto assédio sexual, por parte de um funcionário que trabalhava no horário noturno, contra uma funcionária da empresa. De pronto, a direção adotou todas as medidas necessárias para enfrentar o problema. Houve demissão do acusado e, a todo momento, a Vivaz se colocou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos necessários para elucidação do caso.

Mesmo causando natural mal-estar, do qual nenhuma empresa está imune, o fato teve um lado pedagógico: serviu para reforçar ainda mais as políticas internas de respeito entre as pessoas e à equipe de profissionais – hegemonicamente feminina. Mudanças no padrão de contratação foram implementadas, optando-se pelos serviços terceirizados em algumas funções.

A surpresa e perplexidade vêm agora, mais de três anos após os episódios expostos, quando o assunto vem novamente à tona, causando desconforto para direção, funcionários e fornecedores da Vivaz.

Nossa postura diante de tudo isso é clara. Sempre estivemos à disposição das autoridades – que sequer foram demandadas, até hoje – e de toda a sociedade para dirimir dúvidas, esclarecer fatos e principalmente avançarmos rumo à meta de excelência em todas as áreas envolvidas em nossa labuta empresarial.

Manteremos nosso foco no trabalho de qualidade, como fornecedores que conquistaram arduamente a condição de referência de mercado, deixando eventuais excessos do mundo virtual sob a responsabilidade de nosso corpo jurídico, confiantes permanentemente na Justiça.

É isso o que esperam nossos clientes, nossos colaboradores e todos aqueles que ajudaram a construir um patrimônio intangível formado pelo respeito, trabalho e dedicação diária à preservação de nossos valores.”

A nota enviado no grupo foi direcionada àqueles que indicam e utilizam os serviços da empresa, sem qualquer cuidado ou desculpa com as vítimas, buscando a preservação da imagem da empresa em primeiro lugar, nem que para isso sejam utilizados equivocados mecanismos de retórica como a mentira.

 

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