Hoje um tema bastante explorado na música pop, a violência contra mulheres não ganhava a devida atenção do mundo artístico em 1981, quando Vanusa lançou a música “S.O.S. mulher”.
Composta pela artista — morta neste domingo, aos 73 anos —, a canção abre com os versos “A mão que te acaricia/ É a mesma que te esbofeteia/ E a boca que te beija/ É a mesma que injuria/ O braço forte que lhe ampara/ É o mesmo que te bate na cara!”.
Vanusa é vista como uma precursora, ainda na década de 1970, na defesa pela luta das mulheres na MPB, ao lado de Rita Lee.
— A mulher poder dizer o que quer e expressar as angústias femininas nas letras foi uma conquista dos últimos 40 anos. Vanusa foi precursora, ao ser uma das primeiras cantoras e compositoras a falar abertamente sobre a violência doméstica, em “S.O.S. mulher”, de 1981. É muito interessante que artistas abracem essa causa, como também fizeram Alcione e Elza Soares — analisou o pesquisador musical Rodrigo Faour, em entrevista ao GLOBO em 2015.
Casada seis vezes, Vanusa, como lembrou a escritora Veronica Oliveira no Twitter , “incentivava as mulheres a se livrar de casamentos ruins”. Em sua autobiografia, “Vanusa – Ninguém é mulher impunemente”, lançada em 1999, a
cantora relevou ser vítima de violência doméstica desde a infância, quando seu pai a agredia.
Em entrevista à revista “Isto É”, à época do lançamento do livro, Vanusa afirmou: “Vou me expor e confessar que fui covarde porque apanhei de alguns maridos e não os denunciei para não prejudicar minha carreira”.
Ainda segundo ela, os casamentos terminavam, além das agressões, porque “chegava um momento em que eles queriam que eu parasse de cantar”.
No livro e no espetáculo teatral “Ninguém é loura por acaso”, Vanusa revelou detalhes das agressões sofridas por seus ex-maridos e pelo pai. Uma delas, quando o empresário Francisco Machado Cotta desferiu uma cabeçada em seu supercílio, causou um derrame nos olhos da cantora.
Vanusa, que se considerava “feminista antes mesmo de saber o significado do termo”, tinha como objetivo “dizer às mulheres que nunca devem abdicar dos seus sonhos”. Dizia, inclusive, que aprendera defesa pessoal para não apanhar de mais nenhum homem.
“Levanta o topete/ Reergue essa força!/ Nem que você se torça/ Limpa a cara, sai pra outra/ Não seja filha da luta!”, cantava, ainda, em “S.O.S mulher”.
Do O Globo