O maremoto conservador em João Pessoa, e o suspiro progressista em Campina Grande

São muitas as análises que podem ser feitas a partir dos resultados das eleições 2020 na Paraíba. Enquanto portal que propõe uma linha editorial feminista e progressista, vamos focar nesse recorte.

Qual o recado que a nova composição da Câmara de Vereadores de João Pessoa tem para nos passar? E as eleições em Campina Grande?  Que números são esses que nos deixaram estupefatas, assustadas e apreensivas?

Começando por João Pessoa, foram as eleições para prefeitos mais disputadas dos últimos pleitos. Um número recorde de postulantes, bolsonaristas (notórios ou enrustidos) e especialmente, uma esquerda desunida. 2018 deveria ter deixado um aviso: se a esquerda não se unir, não vai avançar, mas aparentemente, ninguém ouviu. A única mulher concorrente, Edilma Freire, tinha seus méritos, mas foi tragada por uma indicação tardia e por um parentesco que não ajudou em nada, pelo contrário, isso era usado contra ela. Enfim, chegamos ao segundo turno com nomes que já eram esperados, não que isso seja lá grande coisa.

Sobre a Câmara Municipal, só lamento. Uma única mulher, conservadora, homofóbica, machista e todos os adjetivos que se aplicam à um bolsomonion. Não irei citar seu nome por um simples motivo: foi assim, com suas presepadas milimetricamente calculadas e com uma imprensa ávida por difundir qualquer ação, que ela chegou onde chegou. O pouco ou nenhum trabalho legislativo sempre foi o segundo plano da cobertura da imprensa, e sim amigos e colegas jornalistas, vocês são responsáveis por isso.

Em Campina Grande, ganhou o sobrenome. A terceira geração de um clã que se considera acima das pessoas comuns, e que foram colocados nessa posição… pelas pessoas comuns. Basta que você tenha o sobrenome, não precisa de muita coisa. A cidade parou no tempo nos anos 70, ficou por lá. Os campinenes comemoraram a eleição do prefeito como se fossem parte da família, não são e nunca serão. O clube é fechado para poucos escolhidos, mas o complexo de vira-latas faz crer que basta ser amigo do amigo do amigo… uma lástima.

Agora temos o refresco, porque nem só de tragédia vive Campina. Jô Oliveira, mulher preta, filha de empregada doméstica, foi a sexta vereadora mais votada. Só quem tem vivência na cidade sabe o peso de ter uma mulher preta, filha de empregada doméstica, numa cadeira de vereadora. Isso tem uma dimensão muito maior do que cabe num texto.

E aqui, um mea culpa: Campina Grande, ao eleger 7 vereadoras, uma delas preta, deu um tapa de luva no eleitorado pessoense. Aceitem que dói menos.

Taty Valéria

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