Essa história é tão absurda que é difícil até pra começar. Mas vamos lá:
Na noite do dia 14 de novembro, Tamires e Giuliano, que se relacionavam desde janeiro desse ano, saíram pra namorar. Ela descobriu que estava grávida em setembro, e à princípio, Giuliano tentou convencer a namorada a fazer um aborto, ou doar o filho, quando nascesse. Tamires recusou todas as propostas. Giuliano então mudou de comportamento e parecia ter aceitado o filho que ele mesmo ajudou a fazer. Até que… na noite em que saíram, e foram fazer sexo, Giuliano Trondoli inseriu, sem consentimento de Tamires, 3 comprimidos de Cytotec (abortivos). Na hora, ele falou que era tipo um “Viagra feminino”, e ela acreditou.
Na manhã do dia 15 de novembro, Tamires acordou por volta das 7h com muita dor e, ao usar o banheiro, notou dentro da vagina resíduos do que pareciam ser dois comprimidos.
Ela questionou o companheiro, que insistiu que os comprimidos eram estimulantes sexuais. Tamires resolveu ir até o hospital, mesmo diante de reiterada recusa de Giuliano. De acordo com ela, Trondoli pediu que ela ficasse em casa e tomasse um remédio para cólica. No hospital, ao ser atendida, um médico constatou que ela estava em processo de aborto. A caminho do ultrassom, ligou para a polícia, que prendeu Giuliano Trondoli minutos mais tarde.
Na delegacia, ele confessou aos políciais ter inserido três comprimidos de Cytotec na vagina de Tamires durante o sexo e ter dito que se tratava de um estimulante sexual. Trondoli, que se disse incomodado pelo fato de que Tamires queria manter a gravidez, declarou ainda ter adquirido o abortivo pela internet. O crime foi registrado na 8ª DP, no Brás, região central de São Paulo.
Trondoli foi denunciado pelo Ministério Público, e uma medida protetiva foi concedida para impedir que ele se aproxime de Tamires ou de conhecidos dela. O crime de indução de aborto sem consentimento da gestante não prevê liberdade sob fiança. No entanto os advogados do acusado entraram com pedido de habeas corpus, e Trondoli foi solto após pagar fiança de R$ 10 mil.
A reportagem da Folha de São Paulo buscou entrar em contato com Trondoli, mas foi atendida por uma mulher que se identificou como mãe dele. À Folha ela disse que Trondoli responderia na Justiça e que tinha o direito de não ser condenado pela imprensa. A mulher afirmou ainda que Trondoli e Tamires tinham um relacionamento aberto e que as pessoas só falam da violência contra a mulher, sem observar a violência contra o homem. Violência contra o homem.
O caso segue na justiça.
Aqui, um comentário que deve ser permanente. No Brasil, a interrupção da gravidez é crime, exceto nos casos de estupro, de risco de vida para a mãe, ou em gravidez de anencéfalos. De toda forma, levar ou não uma gravidez adiante deveria ser um direito e uma prerrogativa da mulher, e apenas dela. Esse caso se torna ainda mais bizarro por se tratar de uma violência extrema: obrigar uma mulher a abortar, ou obrigar que ela tenha um filho, são equivalentes em se tratando de crueldade e do desrespeito ao corpo e à vontade alheia.