Na última quinta-feira (3/12), a Petrobras anunciou mais um reajuste de 5% do botijão de gás às distribuidoras. No ano, o combustível de maior peso na renda das famílias mais pobres já acumula alta de 21,9% no atacado, acompanhando o aumento da cotação internacional e a variação do dólar. Ainda nesse fim de ano, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) surpreendeu a todos, ao antecipar para dezembro a reativação da bandeira vermelha nas contas de luz, gerando uma cobrança adicional de R$ 6,24 para cada 100 KWh (quilowatt-hora) consumidos. A vida pra quem ganha pouco, ou quase nada, está beirando o insustentável.
E, a partir de janeiro, são esperados ainda os reajustes do transporte público e as correções anuais das contas de luz, que devem tornar a energia ainda mais cara, para além do acionamento da bandeira tarifária. A gasolina e o diesel também devem subir no próximo ano.
“Esse ano, a inflação dos mais pobres ficou bem mais alta do que a geral, por conta de alimentos”, observa Maria Andreia Lameiras, economista e pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, a inflação da população de renda muito baixa chegou a 5,33% no acumulado de 12 meses até outubro, comparada a alta de 3,92% do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial de inflação do país, no mesmo período.
Outro peso importante no orçamento dos mais pobres, o aluguel sofre a pressão de um IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) em alta de 24,52% em 12 meses até novembro. Por outro lado, diz Lameiras, o elevado número de imóveis ociosos reduz um pouco dessa pressão, com muitos proprietários aceitando reajustes mais baixos, apesar do indexador disparado em alta.
A pesquisadora do Ipea destaca que um problema dos itens que vão pressionar a inflação no próximo ano é que eles dificilmente podem ser substituídos.
“No caso do gás de botijão, na pior das hipóteses, as pessoas vão para fogareiro nas comunidades mais pobres. Já na energia elétrica e no transporte público, não existe essa substituição. Assim como com o arroz, feijão e leite, com a energia elétrica, a pessoa pode até diminuir um pouco o consumo, mas precisa de um mínimo para garantir sua subsistência.”
Cozinhar à lenha pode até ser uma alternativa para substituir o gás de cozinha, mas ela não é segura. Por não ter dinheiro para pagar pelo gás de cozinha muita gente está se arriscando com lenha, etanol e álcool.
Em 2017, depois de um sucessivo aumento no preço do botijão de gás, 62% do total de queimados atendidos no Hospital de Restauração em Recife, PE, foram vítimas de queimaduras provocadas no preparo de comida. Estamos agora na iminência de um aumento considerável de vítimas: mais um índice que coloca as pessoas pobres num patamar ainda maior de sofrimento.
Da redação, com Estado de Minas