Terça-feira, 8 de dezembro de 2020. No calendário católico, dia de Nossa Senhora da Conceição. No calendário das religiões de matriz africana, dia de Iemanjá, a rainha do mar. Mas esse 8 de dezembro de 2020 é também uma data de revolta, de silêncios, de dor, de saudade e especialmente, da morosidade da justiça: completamos hoje a assombrosa marca de MIL dias desde o assassinato de Marielle Franco. São MIL dias sem respostas. Quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes?
São mil dias desde que a Polícia Civil foi chamada para o local do homicídio, na esquina das ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, no Estácio, bem próximo à Avenida Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. Em março de 2019, a Polícia Civil e o MP-RJ (Ministério Público do Rio) prenderam Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, dois ex-policiais apontados como os assassinados da vereadora. A Polícia Federal encaminhou o relatório sobre a investigação da conduta de policiais nas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes à então Procuradora Geral da República, Raquel Dodge.
Em uma matéria exibida pelo Jornal Nacional em 29 de outubro de 2019, o nome do presidente Jair Bolsonaro foi citado pela primeira vez dentro do caso. Na ocasião, foi informado que os assassinos de Marielle haviam visitado alguém no mesmo condomínio que o presidente mora, o Vivendas da Barra.
Quem matou Marielle Franco? Pela primeira vez, presidente Bolsonaro é citado no processo que apura o assassinato da vereadora
Em 5 de maio de 2020, enquanto o Brasil já estava inserido no processo de pandemia, o então ministro da Justiça Sérgio Moro pede pra sair. A justificativa? O interesse exagerado do presidente na coordenação da Polícia Federal no Rio de Janeiro.
A coragem melindrosa de Moro escancara interesses de Bolsonaro de não abrir o baú da Polícia Federal
O fato é que passados mil dias, as perguntas continuam as mesmas e as respostas, apesar de óbvias, não chegam.
- Quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Soares?
- Adriano da Nóbrega, um dos líderes do “Escritório do Crime” (grupo de extermínio do qual Roni Lessa fazia parte), tinha ligações diretas com o gabinete de Flávio Bolsonaro, quando era deputado estadual. Adriano estava foragido e foi assassinado durante uma ação policial na Bahia, em fevereiro de 2020. Onde estão os aparelhos celulares de Adriano? E a quebra do sigilo telefônico e bancário?
- Quem autorizou a entrada dos assassinos no condomínio em que o presidente mora?
- Por que o presidente teve um surto após a matéria do Jornal Nacional?
- Por que o Carluxo (Carlos Bolsonaro) sumiu das redes sociais logo após a matéria do Fantástico?
- Por que Sérgio Moro pediu pra sair do Ministério da Justiça?
- Por que Bolsonaro queria ter total poder sobre a coordenação da Polícia Federal no Rio de Janeiro?
- Em 17 de setembro de 2019, Raquel Dodge, deixou a Procuradoria-Geral da República, e pediu ao Superior Tribunal de Justiça a abertura de um novo inquérito para apurar quem foram os mandantes do crime e solicitou que toda a investigação do caso fosse para o âmbito federal. A proposta de federalização foi negada, e a investigação segue a cargo da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro. Isso ajudou ou atrapalhou o andamento das investigações?
Se a intenção no assassinato de Marielle era silenciar sua voz, o efeito, no entanto, foi totalmente inverso e Marille virou semente.