De janeiro a novembro de 2020, 81 mulheres foram mortas por crimes letais intencionais na Paraíba. De janeiro a junho deste ano, 78 mulheres foram atendidas nos serviços de apoio à vítimas de violência sexual, só em João Pessoa.
Mas esse tipo de informação não gera clicks. As pessoas não se interessam por esses dados. O que elas querem é sangue e morte. E se tiver uma pitadinha de nudez, sensualidade e “humor” no meio, que mal tem?
Qual o problema em postar um link de um vídeo em que um homem abusa sexualmente de sua enteada? Ah, querida, você só assiste se quiser! Mas se a intenção era apenas “expor o monstro” (mesmo que ele já estivesse morto), porque o link foi removido?
Não tem porque esconder a verdade! Sim, precisamos ver que uma mulher teve o braço ou a perna arrancados com uma picareta. Buscar leveza quando uma mulher é jogada num rio enquanto se defendia de uma tentativa de estupro. E a mulher surtada esfaqueou o pescoço da namorada? Deve ser amiga da lésbica fez confusão no banheiro feminino. Os mamilos da cantora gospel estão imperdíveis, e a amante completamente NUA exigindo os direitos de esposa são impagáveis. E claro, não dá pra deixar de acompanhar a surfista nua e precisamos descobrir quais as partes íntimas a cantora de funk escondeu com a guitarra.
À quem serve esse tipo de conteúdo? Quem é o leitor voraz desse tipo de informação? Quem se ocupa em ver mamilos, bundas, situações de abuso e estupro contadas de forma “cômica”?
Isso sim é jornalismo de qualidade? É isso mesmo que o leitor paraibano quer e deve consumir? Por que perder tempo buscando dados, fontes, histórias reais? Qual o sentido em passar um mês estabelecendo confiança com uma vítima de abuso se a única coisa que eu preciso é de uma manchete sensacionalista?
É como se a ética e o profissionalismo tivesse perdido completamente o valor, se é que já não perdeu.
Taty Valéria