“Eu não sei onde vou comer rabanada essa noite!” As investigações por trás da juíza morta pelo marido

By 5 de janeiro de 2021Justiça, Machismo mata

Você leu aqui sobre o assassinato da juíza Viviane Vieira do Amaral, que foi morta a facadas na frente das três filhas na noite de véspera do Natal (24). O ex-marido da vítima, o engenheiro Paulo José Arronenzi foi preso em flagrante após o crime e se calou na delegacia e só vai se manifestar em juízo, segundo a polícia.

O crime começou a ser investigado e as primeiras informações sobre os depoimentos de testemunhas começaram a ser divulgado. De acordo com alguns amigos que estiveram com Arronenzi no dia do crime, jogou tênis de praia em Ipanema, na zona sul do Rio. Arronenzi jogou uma partida com outros três amigos, estava “bastante tranquilo e calmo” e se despediu desejando “Feliz Natal” a todos.

Nos depoimentos, o engenheiro é descrito como uma pessoa “tranquila” e “sociável”. Dois dos amigos relataram às autoridades que nunca notaram “nenhum comportamento violento ou agressivo” por parte dele. Um deles lembrou que Arronenzi era chamado pelo apelido de “Risadinha”, devido ao fato de “ser uma pessoa risonha e de bem com todos”. Segundo ele, durante uma conversa na manhã do crime, o engenheiro chegou a dizer “que não sabia onde comeria rabanada naquela noite”. O delegado-adjunto da Delegacia de Homicídios Pedro Casaes, que investiga o assassinato da magistrada, disse acreditar que o crime foi premeditado.

Imagem de ‘dono de casa’

O amigo também contou à polícia que o engenheiro — desempregado há seis anos — “demonstrava estar sempre disponível, aparentando viver uma vida de aposentado, que viveria de renda”. Para uma amiga, Arronenzi passava uma imagem de “dono de casa”, por ter tempo livre para “fazer as coisas e ficar com as crianças”. A mulher que, segundo a reportagem do portal Extra, era a mais próxima do engenheiro de todos os colegas de esporte, afirmou que ele “passou a ter um comportamento diferente, demonstrando estar deprimido, sempre triste e lamentando o relacionamento” após o casal se separar.

De acordo com ela, Arronenzi dizia que “a separação se deu de forma amigável e que tudo ocorria bem”. Ela afirmou que não sabia das agressões e ameaças que ele fazia à Viviane. Meses antes do crime, a magistrada relatou em áudios enviados a uma amiga que tinha medo dos “desvios de comportamento” do ex-marido e que ele extorquia dinheiro dela.

Justiça recebe denúncia

A Justiça do Rio de Janeiro recebeu no sábado (2) a denúncia do Ministério Público contra Arronenzi pelo crime. Com o recebimento da denúncia, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da 3ª Vara Criminal, manteve o engenheiro preso preventivamente — ele está em Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó.

A defesa do acusado tem dez dias para se manifestar por escrito. Além disso, o magistrado determinou que familiares, amigos e pessoas próximas a Arronenzi não se aproximem das filhas do casal. No dia 30, o MPRJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) denunciou o engenheiro por homicídio quintuplamente qualificado. Segundo a denúncia feita pela 2ª Promotoria de Justiça junto ao III Tribunal do Júri do Rio, o crime — cometido por ele de maneira consciente e voluntária, no entender do MP — pode ser qualificado como feminicídio e foi cometido diante das crianças, por meio cruel, motivo torpe e sem chance de defesa.

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