No feminismo, sororidade é a palavra usada para falar da aliança entre as mulheres. É a ideia de deixar de lado a rivalidade feminina, algo que é visto culturalmente como uma característica das nossas relações, para estabelecer apoio mútuo e saudável entre nós. Mas é preciso deixar uma coisa muito clara: sororidade não significa passar pano ou ser indulgente com todos os tipos de ações e comportamentos. Dito isso, é vergonhoso a forma com que mulheres famosas ou em cargos de poder estão expondo, sem qualquer constrangimento, atitudes que vão contra qualquer tipo de senso de coletividade, empatia e noção.
A juíza Ludmila Lins Grilo, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, instigou seus seguidores a driblarem as normas de prevenção contra a covid-19. Em sua conta no Twitter, a magistrada ensinou um “truque” para andar de máscara em locais públicos sem sofrer punições. “Passo a passo para andar sem máscara no shopping de forma legítima, sem ser admoestado e ainda posar de bondoso”, anunciou a juíza em um post. Andando em um shopping, Ludmila buscou demonstrar seu ponto com um pote com duas bolas de sorvete. “1- compre um sorvete; 2- pendure a máscara no pescoço ou na orelha, para afetar elevação moral; 3- caminhe naturalmente.” A mesma juíza já havia usado suas redes sociais para defender aglomerações durante o Ano Novo.
A deputada federal bolsonarista Bia Kicis (sem partido-DF) postou em sua conta no Twitter dicas de como driblar as autoridades locais para não fazer o uso de máscara de proteção contra a Covid-19. Na gravação realizada dentro de um carro, a DJ Pietra Bertolazzi diz que a deputada tem um “truque maravilhoso” para quem não quer usar o equipamento de proteção. O drible seria por meio de uma garrafa de água. “Ela tem sempre uma garrafinha de água. E aí chega o segurança e fala: ‘senhora, precisa colocar a máscara’. E ela fala: ‘só tô tomando uma aguinha, tá? Já ponho’. E aí, ela nunca põe”, afirmou a bolsonarista.
A cantora paraibana Elba Ramalho, no entanto, foi além. Numa live com padre Marcos, da Paróquia São Conrado, no Rio de Janeiro, Elba sugere que a Covid-19 teria sido criado pelos comunistas para destruir os cristãos. “Mas tudo bem, estamos aqui, cristãos, sobrevivendo. E vamos sobreviver a essa turbulência que a humanidade está atravessando. Para muitas pessoas é apenas uma pandemia, para nós, o senhor sabe e eu sei, é muito mais coisa por trás dessa pandemia e que vem ainda com o intuito de nos destruir. Nós somos o incômodo, o calo dos comunistas. Somos nós cristãos, mas nós somos também a resistência e vamos permanecer fiéis, porque Deus vai nos proteger”, afirmou a cantora durante a live com o religioso. Se você não entendeu, não tem problema, até porque essa afirmação não faz nenhum sentido.
Num contexto de 197.732 mortes registradas até esta quarta-feira, 6 de janeiro, é inaceitável que esse tipo de comportamento seja publicizado e pior, incentivado. Não é engraçado, não é polêmico, não é divertido. É minimamente criminoso. No caso de Elba, é ainda mais grave o uso do fanatismo religioso e da total falta de discernimento de uma artista considerada referência nacional.
Não sejam obrigadas. Mas não sejam essas mulheres.