Alguns engasgos e um apedrejamento: precisamos falar sobre acidentes domésticos, e sobre depressão

By 11 de janeiro de 2021Justiça

A Paraíba acordou estarrecida no último sábado (9) com a notícia de que uma mãe, em surto, teria assassinado seu próprio filho, um bebê de 9 meses. O caso aconteceu no bairro do Bessa, numa área considerada de classe média em João Pessoa.

De acordo com as informações circularam, a mãe já estava em surto há três dias e era mantida sob cuidados de uma tia e um amigo da família. Ela havia se hospedado na casa de um tio para ajudá-lo na recuperação da Covid-19, que ela também já havia contraído e se recuperado. Quando a tia levantou-se para dar o leite do bebê na mamadeira, encontrou a mãe com ele no colo e estranhou o estado dela e da criança. A tia chamou o amigo da família após a sobrinha se recusar a entregar o menino. A jovem entregou, então, o bebê ao amigo que percebeu que a criança já estava morta.

O apedrejamento e a condenação foram imediatas. “Como essa mulher foi capaz de matar seu próprio filho?! Um bebezinho!!! Vai queimar no inferno! Deus vai fazer justiça!”. Com um pouco mais de esforço, era capaz de ouvir essas palavras correndo como vento.

O que pouca gente abordou, ainda no sábado, é que 25% das mães brasileiras desenvolveram algum nível de depressão pós parto e que nos casos mais graves, pode desencadear suicídios, ou infanticídio. Mas assim são os brasileiros: atira antes e pergunta depois.

Mas eis que o laudo da causa morte, apresentado já no domingo (10), mostrou que o bebê morreu vítima de broncoaspiração, ou seja, engasgou. Uma mãe foi acusada de assassinar seu bebê, quando ele apenas engasgou. Querendo engolir o choro, pode.

Ainda no domingo, um bebê de oito meses morreu após se engasgar com leite materno, no bairro do Cristo, em João Pessoa. O bebê teria tomado o leite na mamadeira e logo em seguida a mãe o colocou no berço. A mãe da criança foi tomar banho e quando retornou ao quarto o bebê já estava se engasgando. O Samu foi acionado para socorrer a criança. Ele chegou a ser levado para o Hospital de Trauma de João Pessoa, mas não resistiu e morreu.

De acordo com a Ong Criança Segura, 587 bebês morreram por engasgo no Brasil em 2017. A Ong também aponta cerca de 200 mil acidentes domésticos por ano com crianças, como queimaduras, quedas e afogamentos. Sendo tão comuns em bebês, as manobras de socorro poderiam fazer parte do processo de pré-natal para mães e pais. Fica a dica

Mas por que procurar dados, pesquisar sobre depressão, alertar sobre os cuidados com acidentes doméstico, se isso não gera comoção, revolta e audiência?

da redação

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