“Não são apenas as mulheres que têm instinto materno”, diz o jornalista britânico, cuja jornada em busca da paternidade foi retratada pelo documentário Seahorse, apresentado nesta semana pela BBC. O que faz da história de McConnell especial é que ele é um homem transgênero e foi ele quem deu à luz ao bebê, após ter feito tratamento de transição de gênero feminino para masculino há alguns anos.
Não foi uma decisão fácil, mas ter o próprio filho parecia “a opção mais pragmática e mais simples”, contou o jornalista, que trabalha para o jornal britânico The Guardian. Congelar os óvulos e conseguir uma barriga de aluguel ou iniciar um processo de adoção (sobretudo como um homem transgênero solteiro), diz ele, nem sempre são bem-sucedidos.
Em entrevista ao The Guardian, McConnell relembrou sua infância feliz, mas complexa, devido aos problemas de identidade de gênero.
Quando criança, McConnell teve disforia de gênero, termo usado para descrever a ansiedade sofrida por um indivíduo que se identifica com o gênero oposto ao atribuído a ele no nascimento. Como acontece com muitas pessoas transgênero, ele foi vítima de bullying na escola e das provocações cruéis dos colegas, uma vez que seu comportamento não correspondia ao que se esperava de uma menina.
O desconforto com o próprio corpo se intensificou até que, aos 25 anos, ele decidiu fazer o tratamento de transição de gênero tomando testosterona. Um ano depois, fez uma cirurgia para remover o tecido mamário.
Mas pensou duas vezes na hora de considerar uma histerectomia, cirurgia de retirada do útero. Não queria eliminar permanentemente a possibilidade de ter filhos. Esme Chilton, mãe de McConnell, lembra do dia em que o filho contou como se sentia. “Ele estava na faculdade, em Edimburgo, bastante infeliz. E me disse: ‘Sou menino e quero ser menino, me senti assim a vida toda’.”
Caminho inverso
O documentário relata o estresse que McConnell começou a sentir quando parou de tomar testosterona com a ideia de engravidar, e seu corpo começou a fazer o caminho inverso. A falta do hormônio fez com que, entre outras coisas, ele voltasse a menstruar. Isso possibilitou que ele iniciasse um tratamento de fertilização com o esperma de um doador.
Após buscar informações na internet e ver que casais trans nos Estados Unidos haviam engravidado com sucesso, McConnell se atreveu a tentar. A primeira tentativa não deu resultado, mas a segunda confirmou que ele estava esperando um bebê.
Seahorse (Cavalo-marinho, em tradução livre, em referência à espécie em que o macho engravida) também mostra o momento em que McConnell dá à luz na piscina do hospital, acompanhado da mãe. Hoje, o filho Jack tem um ano e mora com o pai em uma cidade costeira da Inglaterra.
O futuro
Mas, embora tenha o apoio do seu núcleo próximo, ele sabe da rejeição e falta de compreensão que a comunidade transgênero sofre. Por isso, apesar de ser uma pessoa tímida e reservada, decidiu fazer um documentário tão íntimo. Sua ideia com este filme, afirmou McConnell ao The Guardian, é normalizar a vida dos transexuais. “Achei que poderia ser uma boa oportunidade para promover a empatia”, declarou.
“A empatia é fundamental para convencer as pessoas de que os transexuais são, de fato, bastante normais e levam uma vida que não é extraordinária, tampouco assustadora.” McConnell não descarta ter mais filhos no futuro, mas acredita que pode aumentar a família sem necessariamente ter de ser a pessoa que vai carregar seu próximo filho no ventre.
do portal da BBC