Faz parte do processo de auto estima feminino a aceitação do corpo, do peso e do cabelo. Aquela parte da aparência que nós queremos ter, gostamos e nos sentimos fortes, confortáveis e lindas. Para além do cabelo loiro/liso, mostrar o empoderamento através do cabelo é uma das armas para dizer ao mundo; “Sim, essa sou eu, e me sinto maravilhosa!”
A barbeira Camila Rocha juntou seu talento, sua formação e sua inquietação para criar, junto com dois sócios, o salão Tzôra Gang BARBIEaria, que como o nome já diz, não é nada parecido com o que você já viu por aí.
A ideia de criar um espaço diverso, livre, acolhedor e sem amarras, surgiu em 2019. “Fiz o curso de barbearia pensando em me distanciar um pouco da vida artística, pois estava num momento triste com a arte, principalmente com a falta de retorno financeiro. Queria uma profissão, queria ganhar meu dinheiro”. Ainda durante o curso, Camila foi encaminhada para trabalhar em barbearias de João Pessoa, onde o público é majoritariamente masculino e convencional.
“Os cliente e amigos começaram a me procurar e pediam procedimentos que saiam do tradicional, e eu meti a cara. Mas isso acabou rendendo algum mal estar, pois os donos não entendiam muito bem aquilo, e as situações de conflito começaram a surgir, além dos problemas “normais” que as mulheres barbeiras passam: machismo”.
Camila saiu desses salões com uma única certeza: não trabalharia mais para ninguém. “Coloquei minhas coisas na mochila e fui atender em domicílio”. Nesse meio tempo, a Preta Langy, que tinha um salão em Mangabeira há mais de 10 anos, fechou as portas e se mudou para o Bessa. “A Preta me ofereceu um espaço na sala do seu apartamento. Nisso, o Arruda Barbeiro, que terminou o curso comigo havia sido demitido, e de repente começamos a trabalhar os três numa sala, e virou uma loucura de tanta gente!”
Num dia despretensioso, as coisas realmente começaram a mudar. “Estava passeando com meu cachorro quando vi o ponto. Em janeiro de 2020 alugamos o lugar e iniciamos o projeto do Tzôra Gang BARBIEaria. Além dos sócios, Camila, Preta Langy e Arruda Barbeiro, a equipe ainda conta com a maquiadora Vitória Farias.
O Tzôra Gang BARBIEaria se identifica como uma “Cabelaria experimental/convencional para todes”. Mas o que isso realmente significa? “Quando falo sobre cabelaria experimental, falo sobre vivencias e convivências artísticas. Se desprende de tudo que é tradicional. A palavra chave é ouvir. Escutamos o que a pessoa quer, que muitas vezes foge do padrão. foge do lugar comum, do visagismo. É uma desconstrução do padrão e dos conceitos, se experimenta e se permite novas possibilidades. Claro que também fazemos o tradicional, porque partiu daí nossa formação. Mas usamos nossa bagagem técnica para descontruir, e tudo isso num ambiente de inclusão e afetividade”.
O principal público é alternativo, underground, LGBTQIA+. Pessoas que em determinado momento, ouviram piadas e comentários sobre o cabelo crespo, ou sobre a aparência. “Tudo o que também passamos dentro desses ambientes normativos”.
Para Camila, o cabelo é um grande símbolo de empoderamento. “O mercado de trabalho funciona sob certos conceitos e padrões. Quando você assume sua identidade e diz que é assim e que sua competência vai além da imagem… é um grito de liberdade. Quando assumimos nossos cabelos de acordo com nossa personalidade, nossa auto estima vai lá pra cima”.
Quer saber mais sobre o Tzôra Gang BARBIEaria? Segue lá! @tzoragang
Taty Valéria