“Não sei se vamos dar conta, é desesperador”.
A afirmação é de *Raquel, profissional de saúde que atua num hospital público de João Pessoa, e que teve seu nome trocado por medo de sofrer retaliações. De acordo com a profissional, mesmo com as novas vagas de leito de UTI que foram disponibilizadas pelo setor público e privado, os hospitais estão todos lotados, o fluxo de pacientes é muito maior que o anterior, quando a pandemia surgiu na Paraíba.
“Estamos no pior momento da pandemia”
Raquel já atuava no hospital há dois anos, mas começou a atender na linha de frente em junho de 2020, quando os casos alcançaram o pico na Capital. De acordo com a profissional, o período atual está ainda mais grave: “Vivemos uma calamidade, especialmente em João Pessoa”
A mudança no perfil dos novos pacientes também mudou. Se antes os idosos e pessoas com comorbidades eram em maior número, hoje os pacientes estão na faixa dos 50, 40 anos, até menos. “Cada vez mais jovens se internam em estado grave e vão pra UTI, são pessoas que estão desenvolvendo a doença de forma mais agressiva passando mais tempo internados”, afirma.
Sobre o trabalho dos profissionais que estão trabalhando diretamente com doentes da Covid-19, Raquel nos relata o drama e o cansaço.
“A grande maioria está há um ano nessa pandemia, estão extremamente cansados, com sobrecarga de trabalho, com escalas extras, já que não tem profissional disponível. Os plantões estão muito agitados, estamos vivenciando colegas com Síndrome de Burnout , e eu não sei até quando vamos aguentar”.
A Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema, sempre relacionada ao trabalho de um indivíduo. Essa condição também é chamada de “síndrome do esgotamento profissional” e afeta quase todas as facetas da vida de um indivíduo.
Raquel adianta que não prevê queda de casos, pelo contrário. “O número de pacientes está aumentando, especialmente em estado grave. Se medidas de isolamento social drásticas não forem tomadas, a tendência é aumentar muito, e a Paraíba pode chegar a um possível colapso, posso estar sendo negativa, mas é o que os números mostram e é o que estou vivenciando”.
A profissional também afirma que o atual momento é o mais grave desde o início da pandemia. “Os hospitais estão lotados e as pessoas continuam saindo e se aglomerando, o medo do vírus está cada vez menor”, diz Raquel, que enxerga a falta do isolamento social mais rígido e a falta de vacinas, como grande vetor da disseminação da doença.
“Os grupos que estão sendo vacinados não aglomeram, e mesmo assim ainda são poucas pessoas vacinadas. As pessoas perderam o medo da doença, não sabem como o vírus pode se manifestar no corpo. Não conseguem mais ficar isoladas e vivem na normalidade, como se o vírus não existisse, como se os hospitais não estivessem lotados e como se as equipes não estivessem exaustas”.
Ela também atribui o aumento de casos à irresponsabilidade do Governo Federal, que ainda trabalha com o negacionismo e com a falta de medidas mais duras. “As pessoas precisam de informações seguras e devem buscar essas informações, ficar em casa o máximo possível, buscar as medidas de proteção e não naturalizar esse ‘novo normal’, isso não deu certo!”
Raquel termina seu relato com um pedido, e um alerta:
“Se você tem o privilégio de poder ficar em casa, fique em casa, só saia se for muito necessário. Obedeça as regas sanitárias, higienizem as mãos e usem máscaras. Estamos muito perto de um colapso no sistema de saúde e se isso acontecer, não teremos a quem recorrer”.
De acordo com os dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde na segunda-feira (1º) a Paraíba hoje conta 222.259 casos confirmados da doença, que estão distribuídos por todos os 223 municípios, e superou a marca dos 4.500 óbitos por Covid-19.
Até o momento, foram aplicadas 147.955 doses da vacina, sendo 112.401 pessoas com a primeira dose e 35.554 com a segunda dose.
O Governo do Estado lançou, nesta segunda-feira (1º), um edital em caráter emergencial, para compor temporariamente o quadro de médicos, visando atender as ações de enfrentamento da Covid-19. O Processo Seletivo Simplificado visa à contratação de 160 profissionais (sendo 100 médicos clínicos e 60 intensivistas). As inscrições seguem até esta quarta-feira, 3 de março e podem ser feitas por este link: https://portaldacidadania.pb.gov.br/ConcursoSelecao/Governo/Concurso/ListaConcurso