“Desde que comecei a dançar passei a me sentir bem melhor e mais feliz. Meu corpo está mais flexível e eu tenho disposição para tudo. Estou adorando”. O depoimento de Vilmo Camargo parece ilustrar bem o que sentem os idosos do grupo “Dança e Parkinson”, um projeto de pesquisa e extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Coordenado por Aline Nogueira Haas, professora do curso de Licenciatura em Dança e do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da UFRGS, o projeto tem o objetivo de estimular pessoas com doença de Parkinson a realizarem atividades físicas para evitar que os sintomas se agravem.
“Sempre com cautela, de acordo com as necessidades e possibilidades de cada aluno, as aulas trabalham a coordenação motora e a consciência corporal por meio de exercícios baseados nas técnicas de dança de ritmos brasileiros, como samba e forró”, descreve a professora.
O grupo é formado, na grande maioria, por pessoas com mais de 55 anos – faixa etária em que a doença costuma se manifestar. Parkinson é uma doença degenerativa que afeta o sistema nervoso central, provocando perda do controle motor, rigidez nas articulações, tremores nos membros superiores e desequilíbrio, entre outros problemas. Embora não tenha cura, estudos já vêm mostrando que práticas como a dança podem ajudar a controlar os sintomas.
Aline estuda os benefícios da dança para a saúde de pessoas idosas, e o projeto Dança e Parkinson tem fornecido insumo valioso para isso. “Quem tem a doença de Parkinson tem dificuldade de se movimentar, e não basta tomar medicamentos: ela precisa se mexer todo dia”, explica.
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Já existe evidência científica de que a dança pode ser tão eficaz quanto a fisioterapia tradicional na melhora da chamada mobilidade funcional – o que envolve coisas como caminhar, sentar e levantar. É que, segundo Aline, dançar envolve a tomada de uma série de decisões de forma mais ativa – afinal, a pessoa se movimenta em diversas direções e precisa coordenar o movimento de várias partes do corpo ao mesmo tempo.
Mas a dança não é só exercício: já existem evidências de que, por envolver a música e a associação com memórias e sentimentos, ela é efetiva na melhora da cognição e do humor. Em uma pesquisa com idosos, Aline descobriu que, para eles, a dança representa um retorno à adolescência e à infância. “Ao rememorar essa época e perceber que estão conseguindo fazer novamente algo que faziam quando jovens, eles se sentem mais empoderados”, explica.
Desafios na pandemia
Sempre de forma gratuita, o projeto envolvia somente atividades presenciais até o começo de 2020. Com a pandemia, foi preciso se reinventar. Aline e sua equipe começaram gravando as aulas em casa e disponibilizando no YouTube. Para garantir que os alunos teriam acesso, os vídeos também foram enviados pelo WhatsApp.
Mas os idosos pediam por algo mais participativo, em que pudessem interagir. Por isso, a professora testou outro método no segundo semestre de 2020: transmitir as aulas ao vivo pelo Facebook. O resultado não foi tão bom: além de muitos não terem uma conta na plataforma, o grupo acabou não se adaptando. A solução foi usar uma ferramenta de reuniões online com grupos menores. Este ano, o plano é transmitir aulas para o grupo todo – e as sessões que antes eram semanais passarão a acontecer duas vezes por semana.
Não é difícil perceber que o projeto vai muito além da dança em si: os participantes formam uma comunidade. No fim do ano, a pedidos, teve até festinha online e entrega de máscaras de presente. “Estamos fazendo o máximo para dar esse apoio, porque o Parkinson é uma doença degenerativa que piora com a idade, e pode piorar ainda mais nessas condições de pandemia e isolamento”, completa Aline.
Mas o trabalho não vem sem desafios. Nem todo mundo aderiu ao formato digital: dos cerca de 30 participantes do grupo de dança, somente 15 continuaram. Muitos têm dificuldade de lidar com a tecnologia. E as aulas a distância também rendem outras preocupações. “Um dia, uma aluna dormiu no meio da aula e a gente ficou preocupado, sem saber se ela tinha só dormido ou passado mal. Mas estava tudo bem no fim”, lembra a professora.
do UOL