Imagine a situação: você é estuprada e engravida do agressor. Depois de passar por uma violência, você precisa lidar com todo o constrangimento do sistema, passar pela dor, humilhação de ter que recontar sua história, e por fim, pode decidir se quer, ou não, manter essa gravidez. Essa decisão é sua. Mas pode deixar de ser.
Essa semana, corre no Senado Federal a possibilidade de votação do Projeto de Lei 5435/2020, de autoria do Senador Eduardo Girão (PODEMOS – CE), que “dispõe sobre a proteção da gestante e põe a salvo a vida da criança por nascer desde a concepção, e cria auxílio para o filho de mulher vítima de estupro.” Condicionar uma mulher a ter que conviver com a presença do seu estuprador e ter seu filho o chamando de “pai” já é cruel e inimaginável, mas no Brasil de 2021, tudo pode ficar pior.
A proposta visa proibir interromper a gravidez em decorrência de um estupro, que hoje é lei.
É isso mesmo: se você for estuprada e engravidar, vai ser obrigada a ter o filho, e vai ser obrigada a conviver com o estuprador. O Bolsa Estupro propõe o pagamento de 1 salário mínimo para auxiliar no sustento da criança gerada através de um estupro. Dói até para escrever.
É um projeto inominável. Não existem adjetivos que consigam expressar nossa ojeriza.
Vamos ficar atentas. Vamos pressionar os senadores. Vamos fazer valer nossa voz.
É inadmissível que as mulheres brasileiras sejam condicionadas à uma sub categoria de seres humanos. É nosso corpo, nossa vida, e nossa integridade que estão em jogo.
Taty Valéria