A pandemia do coronavírus reverteu o progresso global no alcance da igualdade entre homens e mulheres concluiu o Fórum Econômico Mundial (FEM) em seu relatório Global Gender Gap de 2021, divulgado na quarta-feira 31.
As consequências, segundo o órgão, podem ser duradouras. O índice anual, que rastreia a evolução de lacunas na paridade de gênero desde 2006, avalia o progresso obtenção da igualdade de gênero em quatro esferas principais: participação e oportunidade econômica,
realização educacional, saúde e sobrevivência e representação política.
A lacuna global de paridade de gênero está atualmente 68% fechada, de acordo com o relatório deste ano que abrangeu 156 países. Isso representa uma redução de meio ponto percentual em relação ao ano anterior. Continuando nesse ritmo, levará 133,4 anos para alcançar a paridade global entre homens e mulheres.
Segundo o documento, o declínio mundial na paridade de gênero foi impulsionado principalmente pelo fraco desempenho em grandes economias avançadas e emergentes.
Neste contexto, o coronavírus foi apontado como parcialmente responsável por reabrir essas lacunas. Dados preliminares sugerem que as consequências econômicas e sociais da pandemia afetaram mais a ala feminina, com 5% de todas as mulheres que tinham alguma ocupação tendo perdido seus empregos até o momento, em comparação com 3,9% dos homens. Outros dados também mostraram um declínio significativo no número de mulheres contratadas para cargos de liderança, revertendo o progresso recente em um a dois anos.
A crise sanitária provocada pela Covid-19 também acelerou a digitalização e a automação, levando a rápidas inovações no mercado de trabalho. As mulheres, segundo o relatório, representam um terço ou menos da força de trabalho nos setores de computação em nuvem, engenharia e dados e inteligência artificial. A baixa chegada de novos talentos e tais setores é um sinal de que a proporção de mulheres que ingressam aumentou apenas marginalmente
mesmo caiu, nos últimos anos.
Dos oito setores de empregos analisados, apenas dois (“Pessoas e Cultura” e “Produção de Conteúdo”) alcançaram a paridade de gênero. Enquanto isso, as mulheres continuam severamente sub-representada muitos setores. Um novo indicador introduzido este ano aponta inclusive que é ainda mais difícil para as mulheres fazerem a transição para campos onde elas já estão sub-representadas.
No contexto da pandemia, as mulheres também estão mais propensas ao estresse devido a uma longa “dupla jornada” de trabalho remunerado e não remunerado, devido ao fechamento de escolas e à oferta limitada de serviços de assistência. Este seria outro obstáculo para as mulheres conquistarem posições liderança ou ingressarem em novos setores.
As condições agravadas pela pandemia, adverte o relatório, podem deixar “cicatrizes” nas oportunidades econômicas para as mulheres no futuro.
Com apenas 22,3% de sua lacuna fechada, a representação política é a menos desenvolvida das quatro lacunas de gênero analisadas pelo FEM. A diferença aumentou 2,4 pontos percentuais desde o relatório do ano passado. Em todos os países avaliados, as mulheres representaram apenas 25,7% dos cerca de 35,5 assentos no parlamento e 22,8% dos mais de 3,4 mil ministros em todo o mundo. No ritmo atual, levará 133 anos para alcançar a paridade de gênero na esfera política.
Participação e oportunidade econômica, por sua vez, compõe a segunda lacuna de menor evolução. Após um ano de ligeira melhora, o índice mais recente mediu a lacuna como 58% fechada. Por enquanto, serão necessários 257,2 anos para que a participação e as oportunidades econômicas sejam iguais para homens e mulheres.
Quando se trata de realização educacional, saúde e sobrevivência, entretanto, as lacunas estão quase fechadas. A lacuna global de realização educacional entre homens e mulheres, por exemplo, encontra-se 96,3% fechada. No ritmo atual, a paridade total deve ser alcançada em 13 anos, sendo que 30 países já a conquistaram.
Retrocessos e avanços
Pelo décimo segundo ano consecutivo, a Islândia foi classificada como o país com maior igualdade de gênero no mundo.
A Europa Ocidental continuou sendo a região que mais progrediu em direção à paridade de gênero, com 77,5% da lacuna fechada, seguida pela América do Norte, com 76,4%. Por outro lado, com apenas 61,5% lacunas fechadas, o Oriente Médio e o Norte da África foram novamente as regiões que têm um caminho mais longo pela frente.
Os maiores avanços deste ano foram observados na Lituânia, Sérvia, Timor-Leste, Togo e Emirados Árabes Unidos. Timor-Leste e Togo ficaram entre os únicos quatro países (incluindo a Costa do Marfim e a Jordânia que conseguiram melhorar suas lacunas de participação e oportunidade econômica em pelo menos um ponto percentual desde o último relatório.
Para alcançar um futuro com maior igualdade entre homens e mulheres, o FEM recomenda um maior
investimento no setor de cuidados, bem como políticas de licenças iguais para homens e mulheres. Políticas e práticas direcionadas também são necessárias para superar a segregação ocupacional por gênero. Por último, o relatório apela para políticas de requalificação e práticas gerenciais em meio de carreira que incorporem práticas sólidas e imparciais para contratação e promoções.
da Carta Capital