Sempre que publicamos casos de violência contra a mulher e feminicídios, inevitavelmente surge o questionamento: “será que ela provocou?”, “o que ela deve ter feito?”.
O fato é que na grande, imensa e esmagadora maioria das vezes, ela não fez nada.
Aline dos Santos Viana, de 32 anos, estava saindo para o trabalho, foi esmurrada e assassinada por um vizinho, sem ter feito absolutamente nada.
“Ela não fez nada. Foi ser gentil com um vizinho e tomou um soco. Morreu pra nada, por nada, sem defesa”, desabafa Charles da Silva Vicente, marido de Aline, que morreu após ser atacada por um vizinho na garagem do prédio em São Vicente, no litoral de São Paulo. Ele revela, também, detalhes do que poderia ter sido a motivação do crime.
Um vídeo mostra o momento em que o vigilante Washington Andrade de Jesus, de 36 anos, dá um soco em Aline, que desmaia, e a arrasta para a escadaria do prédio, onde ela foi encontrada morta. Após o crime, com a chegada da polícia, o vigilante botou fogo no apartamento dele, se jogou do 7º andar e morreu no local. A Polícia Civil investiga o caso e ainda não se sabe a causa da morte da mulher.
Segundo Charles, o casal não era próximo do vizinho e os dois evitavam o vigilante. “Eu não tinha nenhuma proximidade com ele. Nunca fui com a cara dele, nunca curti ele”, disse. Ele afirmou, ainda, que a esposa concordava com a desconfiança. “Minha mulher a mesma coisa. A cara dele já assustava a gente”. Para ele, Aline nunca falou sobre alguma atitude que pudesse apontar traços de violência ou perseguição do vizinho com ela. “Eu acho que ele ficou de olho no tempo que ela ia sempre pro trabalho e atacou ela nesse momento”, disse.
Pouco antes do ataque, segundo Charles, o vizinho brigou com a namorada. Ele acredita que, por esse motivo, a companheira do vigilante não estava em casa no momento do crime. “Ele brigou com a mulher dele neste mesmo dia […] acho que ele não conseguiu bater na mulher dele, que saiu de casa, e ele pegou a minha mulher. Acho que a minha mulher sofreu o que a mulher dele não sofreu”, diz.
“Se cuidem, mulheres, vocês não estão seguras em lugar nenhum. A minha esposa foi uma mulher cem por cento maravilhosa. Tivemos duas filhas lindas. Era uma família feliz, mas o inimigo que mora ao lado não curtiu“, desabafou.
Ele conta que, após a morte da mulher, saiu do apartamento, onde os dois moravam havia mais de um ano. “Está muito difícil. Eu vivia pra ela, ela vivia pra mim e a gente vivia para as nossas filhas. Nunca imaginei que fosse acontecer isso. Eu via isso em TV mas nunca pensei que isso fosse acontecer comigo”.
A mulher deixou, além do marido, duas filhas, uma de sete meses e outra de três anos.
da redação, com informações do G1