Quantas mortes poderiam ter sido evitadas e por que ainda não vacinamos todas as nossas grávidas?

A morte materna por covid-19 aumentou 113% no Brasil este ano com relação ao ano passado. Os dados são do OOBr Covid-19, observatório obstétrico recém-lançado que agrupa informações de várias bases públicas, como os sistemas de nascidos vivos e de mortalidade materna, e o Sivep Gripe (Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe).

O número de mortes maternas passou de 10,4 óbitos (449 mortes em 43 semanas de pandemia de 2020) para 22,2 nas primeiras semanas deste ano, com 289 mortes.

Um dos principais motivos para esse aumento significativo está relacionado ao fato de que uma em cada quatro gestantes e puérperas internadas com SARS-Cov-2 não teve acesso a unidades de terapia intensiva (UTI) e cerca de 34% não foram intubadas, derradeiro recurso terapêutico que poderia salvá-las. Os números consideraram análise que estende ao período de surgimentos dos primeiros casos da COVID-19 no Brasil.

Na última sexta-feira (16), o secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Raphael Câmara Medeiros, afirmou, em entrevista coletiva, que mesmo na ausência de estudos, novas cepas do coronavírus podem se manifestar mais gravemente em mulheres grávidas e recomendou que, a partir do terceiro trimestre de gestação, elas façam o exame RT-PCR, que aponta a infecção pela COVID-19. “Já temos a nota técnica que dá essa recomendação expressa para as grávidas com fatores de risco. Estamos na fase final de análise e não podemos errar. Estamos avaliando se iremos colocar, mas a sugestão de grande parte dos especialistas é essa”, disse o secretário.

A pasta avalia incluir todas as mulheres grávidas e puérperas na campanha nacional de vacinação contra a COVID-19. Hoje, com as regras do Plano Nacional de Imunização só acolhem aquelas grávidas que apresentem comorbidades. Câmara Medeiros observou que “praticamente todos os especialistas em ginecologia obstetrícia têm uma sugestão e pedem com bastante força que todas gestantes entrem nesta recomendação, já estamos em tratativas avançadas”.

Raphael Câmara sugeriu ainda, que as mulheres adiem a gravidez enquanto durar o pico da pandemia de COVID-19. Num país que dificulta o acesso à políticas de planejamento familiar, essa sugestão soa ridicularmente simplória.

Óbitos

Especialistas têm dito que as manifestações da doença respiratória vão de quadros assintomáticos até os de maior gravidade e fatais. O período de maior risco pode ser desenvolvido no último trimestre de gestação, como citado pelo secretário do Ministério da Saúde, e no período do puerpério. Portanto, gestantes e puérperas até o 14º dia de pós parto, são consideradas grupos de risco para contrair o vírus.

O Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19, que visa a dar visibilidade aos dados envolvendo esse público específico e oferecer ferramentas para análise e fundamentação de políticas para atenção à saúde de gestantes e puérperas em relação ao novo coronavírus, apontam que entre março de 2020 e a última quinta-feira (a mais recente atualização de estatísticas do Ministério da Saúde), foram registrados 9985 casos de internações por COVID-19 com 815 óbitos (8,2%).

Houve, ainda nesse período, outros 9.997 de registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com 263 mortes entre gestantes e puérperas, que, na avaliação dos pesquisadores, podem ser também episódios de SARS-Cov-2. “Percebemos que o aumento da mortalidade das gestantes foi maior do que da população em geral.

Enquanto o aumento, desde o início da pandemia, foi de 61% na média no país, as mortes cresceram 144% entre as gestantes se comparados os números de 2020 e 2021”, explicou  Rossana Francisco , docente do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp).

 

Paraíba Feminina e seu papel social

 

Desde o início da pandemia, nossa página tem feito alertas em relação ao risco das mulheres grávidas e puérperas. Ao longo de pouco mais de um ano, foram mais de 10 matérias sobre esse mesmo tema. No início do mês de abril de 2020, publicamos a normativa do Ministério da Saúde que incluiu grávidas e mães de recém nascidos no grupo de risco da Covid-19. No final do mesmo mês, lançamos o editorial Precisamos proteger as nossas grávidas do coronavírus.

Passado o primeiro ano de pandemia, e com níveis alarmantes de mortes e gestantes infectadas, parece que finalmente o alerta vermelho chegou. Quantas mortes poderiam ter sido evitadas?

Nos links abaixo, você pode conferir algumas das matérias que foram publicadas. Como diria aquele velho dito popular, “Nós avisamos!”.

 

 

Os medos e incertezas das grávidas com a pandemia: “presenciei o caos”

 

Brasil amarga recorde mundial de grávidas mortas por coronavírus

 

O dilema das grávidas que não querem visitas quando o filho nascer: “não me sinto segura”

 

Cuidado, meninas! Covid-19 foi responsável por 60% das mortes de mulheres grávidas na Paraíba este ano

 

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Aprovada no Senado a inclusão de gestantes entre as prioridades na vacina contra a Covid

 

Morte materna por covid-19 aumentou 113% no Brasil em 2021

 

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