Equivocada, para dizer o mínimo. Não há outro adjetivo para definir a presença do atual ministro da Educação, Milton Ribeiro, na aula magna da Universidade Federal da Paraíba. À convite do interventor federal Valdiney Gouveia , também estavam presentes na mesa o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena.
O tema da fala do ministro foram “avanços e desafios da educação”. Dos avanços, nada se falou, até porque eles não existem. No que se refere aos desafios, o ministro deixou bem claro que são muitos, mas não apresentou qualquer plano, proposta ou mesmo uma ideia, de como irá saná-los.
A imprensa local deu cobertura total à visita do ministro, mas esqueceu de abordar uma parte específica de sua fala durante a aula magna.
Ressuscitando o fantasma do kit-gay, fake news que foi uma das grandes responsáveis pela vitória de Jair Bolsonaro em 2018, Milton Ribeiro retomou o discurso vazio, sem sentido, e porque não dizer, mentiroso, a respeito de um provável livro que “incentiva crianças de 6 anos a mudar de sexo.
“…crianças com 9, 10 anos, que não sabem ler, mas sabem colocar uma camisinha. Tava na hora de dar um basta nisso. Esse pessoal do contra me levou ao Tribunal de Contas da União porque eu retirei do edital do livro didático questões de gêneros para crianças de 6 anos. Acho que temos o direito de não violar a inocência de uma criança trazendo questões de que você pode escolher o que quer. Não pode ser assim”
Sobre essa fala, algumas questões a comentar:
Crianças de 9 ou 10 anos não sabem colocar uma camisinha, mas é bom que aprendam quando chegar a hora, porque grande parte dos adultos também não sabe.
Se for o caso de uma criança de 9 ou 10 anos saber colocar uma camisinha, significa que ela está sendo abusada sexualmente. Então a questão aqui não é de ideologia.
“Esse pessoal do contra”, também é conhecido popularmente como “as vozes na minha cabeça que me fazem inventar mentiras descabidas para pegar os tios e tias do zap”.
Não existe nenhum livro, manual, material ou kit que incentive uma criança a mudar de sexo.
O que viola a inocência de uma criança é a violência, a fome, a miséria e a negligência. Quanto mais cedo se conversa sério com as crianças, mais cedo elas conseguem identificar qualquer tentativa de abuso. Fica a impressão de que a ala ideológica/evangélica do governo Bolsonaro não quer que as crianças saibam que estão sendo abusadas, mas como disse, é só uma impressão.
Voltando à “aula magna”, ela foi mantida quase que em segredo pelo interventor e sua equipe. Na lista de convidados exclusivos, apenas a ala bolsonarista próxima à Valdiney, incluindo políticos locais que não fazem parte da pauta da educação no estado.
Juliana Lima, do Coletivo Estudantil A UFPB Somos Nós, destacou que “a fala transfóbica e a evidente falta de conhecimento a cerca do Fundeb – na verdade, de todos os temas relativos à gestão federal da educação – não são surpresa. Nós que somos do movimento estudantil da universidade e seguimos na defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, negamos o interventor e todas as suas ações que são extensões do bolsonarismo e seu projeto de destruição da educação”.
Depois da visita do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e do ministro da Educação, Milton Ribeiro, a Paraíba ainda vai receber na próxima quinta-feira (29) o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. E a pergunta fica no ar: Por que a Paraíba virou rota de ação do governo Bolsonaro?