Juliette, o direito de ser chata e a quebra de preconceitos contra as paraibanas

Ela foi um fenômeno. Muito maior do que qualquer participante de um reality show no Brasil. Ganhou a simpatia de artistas nacionais, o coração de milhões de brasileiros, se tornou a brasileira com maior engajamento nas redes sociais do mundo, e caso não haja um apocalipse ou uma invasão alienígena até o final do Big Brother Brasil 2021, vai se sagrar a maior vitoriosa de todas as edições do programa.

Mas assim como toda pessoa que consegue arregimentar tantos predicados, Juliette Freire também trouxe pra si uma outra infinidade de haters, também conhecidos como os odiadores da internet (num conceito bem básico). Para além de um plano de marketing excepcional (e que acabou gerando uma contra propaganda bem indigesta), não é errado acrescentar um ingrediente fundamental à antipatia geral: xenofobia.

Muito se falou nessa edição de racismo, machismo e homofobia, e nós tratamos sobre isso aqui nesse espaço. Mas o preconceito contra um nordestina que ousou fugir do estereótipo do paraibano conhecido no sul do Brasil conseguiu causar constrangimentos, ativar gatilhos e deixar muito explícito que paraibanas e paraibanos não têm o direito de ser quem são, se não for pra ser exatamente o que se espera deles.

Juliette, pra começar, não poderia ser tão bonita (levando-se em conta de que beleza é um conceito subjetivo) midiaticamente falando. Ela também não poderia falar com o português correto. Terminar uma faculdade pública de Direito e ter sua carteirinha da OAB? Jamais. E se vestir bem, frequentar as baladas, ir pras festas chiques e “ostentar” uma garrafa de Smirnoff Ice na mão? Quem ela pensa que é?

Os “paraíba” são ignorantes, analfabetos, miseráveis. Vivem em cidades sem água encanada, passam fome, moram em casebres de barro e se locomovem em cima de jumentos. Não possuímos um dos maiores polos tecnológicos do Brasil e nem contamos com universidades e institutos federais de qualidade. Poderia listar outra centena de predicados paraibanos, mas não é esse o ponto.

Também não estou querendo dizer que não há pobreza na Paraíba. Há. Assim como em qualquer outra cidade de qualquer outro estado ou região do país.

O que de fato estou querendo dizer é que ainda é “crime” ser um paraibano que não condiz com a imagem criada pelo imaginário popular e reforçada pela mídia.

Juliette segurou seu sotaque e seu jeito paraibana de ser até o fim.

E se ela foi chata em muitos momentos, paciência. Ou nem o direito de ser chata, ela tem?

 

O surpreendente lado advogada de Juliette que não conhecemos

 

 

Leave a Reply

%d blogueiros gostam disto: