Serial killer? Polícia investiga assassinato de homossexuais com requintes de crueldade

By 10 de maio de 2021Justiça, Machismo mata

David Lavisio tinha 28 anos e trabalhava como enfermeiro, atuando na linha de frente aos infectados da Covid-19. Marcos Vinícius Bozana, 25 anos, era estudante de medicina. Ambos moravam em Curitiba, eram gays, ligados à área da saúde e moravam perto um do outro, mas as semelhanças entre os dois não param por aí: os dois foram assassinados e os corpos foram encontrados entre 2 e 6 de maio, apresentando as mesmas características, asfixiados e com os braços amarrados, em seus próprios apartamentos.

Uma terceira vítima, Robson Paim, professor universitário encontrado morto em Santa Catarina dia 16 de abril, pode ter alguma ligação com os casos.

Nos dois primeiros casos, familiares e amigos estranharam o sumiço dos jovens, que não atendiam ligações ou respondiam mensagens. Outro ponto em comum é o receio de que ambos tenham sido alvos de crimes de ódio contra homossexuais.

“Os casos apresentaram requintes de crueldade. Não queriam simplesmente matar, mas sim vingar uma questão. Para nós, o que caracteriza o crime ideológico é o exagero, muitos ferimentos. Há um ódio nesse sentido”, explicou Toni Reis, diretor da Aliança Nacional LGBTI+, organização que tem servido de ponte entre testemunhas e autoridades nos dois casos. Os dois rapazes residiam em bairros vizinhos da capital paranaense, em ruas separadas por cerca de 2 km.

“O modus operandi leva a crer que é uma só pessoa [por trás dos crimes]. Isso é uma dedução nossa”, afirmou Reis, mencionando o fato de os homens morarem relativamente perto e os crimes terem ocorrido num curto espaço de tempo.

Família acionou chaveiro para entrar em apartamento David foi encontrado morto em sua casa, na Vila Lindoia, no dia 30 de abril. Natural de Rancho Fundo (PR), mudou-se para Curitiba a trabalho há dois meses. Segundo Victor Menezes, delegado do DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa), em declaração à imprensa, pessoas próximas ao enfermeiro não conseguiam entrar em contato com ele desde o dia 27 de abril e foram até a residência do rapaz. Com o auxílio de um chaveiro, entraram no local e encontraram David sem vida, de bruços, com as mãos amarradas e um travesseiro no rosto.

Menezes disse que o enfermeiro autorizou a visita de um homem ao seu apartamento no mesmo dia em que a família conseguiu contatá-lo pela última vez. No caso de Marcos, a polícia foi acionada na quarta-feira (5), por volta de 16h30, e também precisou de um chaveiro para entrar no apartamento, no bairro Portão. O local estava trancado e não apresentava sinais de arrombamento. O corpo do estudante foi encontrado em estado de decomposição e com um cobertor sob a cabeça. A polícia identificou que a morte ocorreu um dia antes. O prédio conta com câmeras de segurança e portaria. “O prédio onde ele morava tinha portaria. Quem adentrou no apartamento solicitou autorização e o morador autorizou”, disse o delegado Thiago Nóbrega, do DHPP, em entrevista ao Balanço Geral, da RIC, afiliada da Record no Paraná, na quinta-feira (6).

Nóbrega afirmou que também não havia sinais de roubo ou furto e que a carteira do rapaz estava no local. “Tudo indica que ele foi vítima de homicídio. Vamos aguardar o lado pericial, de necropsia, para dizer a causa morte, se foi sufocamento, se foi esganadura. Não tem ainda a causa do crime. Possivelmente trata-se de homicídio”, declarou o delegado.

Marcos era de Campo Grande (MS) e estudava medicina na PUC-PR desde 2017. Ele vivia no mesmo condomínio há dois anos.

A Polícia Civil do Paraná não confirmou se há relação entre os casos e disse que eles seguem sob investigação. A corporação não forneceu mais detalhes para não atrapalhar as investigações.

Toni Reis alertou para a possibilidade de aumento de crimes contra a população LGBTQ diante da propagação de discursos de ódio: “Precisamos entender quem afiou a faca, que foram extremistas conservadores”.

Reis também afirmou que a organização tem feito um trabalho de alerta à população para que tome cuidado com encontros. Uma preocupação é com a possibilidade de conhecer pessoas estranhas, algo cada vez mais recorrente durante a pandemia.

“Estamos alertando a nossa comunidade que redobre os cuidados com parcerias, que não levem gente estranha para suas casas, que levem para hotéis, motéis, lugares com câmeras”, disse. A mobilização é feita por meio de redes sociais. A organização conta com um canal próprio de denúncias, que reúne casos de violência e discriminação. O canal pode ser acessado por meio deste link.

 

da redação, com informações do UOL

 

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