Qual o limite da cara de pau? Em se tratando de homens que têm muita coragem, mas nenhuma noção, esse limite se compara ao Universo: não tem fim.
Dezessete homens se cadastraram no grupo prioritário de gestantes e puérperas para receber a primeira dose da vacina da Pfizer contra covid-19 em Divinópolis (MG), a 120 km de Belo Horizonte. O caso aconteceu neste fim de semana e foi levado ao Ministério Público. A Polícia Federal também foi acionada. A irregularidade foi descoberta depois que a Secretaria Municipal de Saúde identificou suspeitas de fura-filas e de pessoas que estavam entregando laudos com comorbidades “questionáveis” para vacinar, principalmente de jovens.
O prefeito Gleidson Azevedo (PSC) disse em entrevista coletiva nesta segunda-feira (24) que a tentativa de manobra ilegal ocorreu porque o cadastro de vacinação das mulheres grávidas não exigia a indicação do sexo no ato da inscrição.
No entanto, de acordo com ele, a ilegalidade foi impedida a tempo no Centro de Saúde, que recebeu ainda cerca de 200 tentativas de fura-filas. “A gente só conseguiu ver a fraude na triagem final mesmo, na hora que eles chegaram aqui”, afirmou.
Desconfianças no cadastro
O procurador municipal Fernando Henrique Costa afirmou que a quantidade de jovens com comorbidades chamou atenção, o que levou a uma investigação. As idades e identidades destas pessoas não foram reveladas. “Percebemos que quanto mais diminuía a idade, aparecia um maior número de comorbidades. Então, começamos a observar isso junto de algumas denúncias de fraude em relação ao grupo de grávidas e encaminhamos para a Polícia Federal e Ministério Público”, explicou.
Conforme afirmou o procurador, mesmo depois que constatada a irregularidade, alguns homens que preencheram a ficha de cadastro no grupo de gestante exigiram ser vacinados. “O problema que a gente encontrou é que mesmo estando com cadastro de grávida, sendo homens, eles queriam vacinar, dizendo que o cadastro foi aceito. Mas é por isso que fazemos a triagem, para evitar qualquer problema”, completou.
De acordo com a Prefeitura, se comprovadas as fraudes, as pessoas imunizadas e o médico que forneceu o laudo falsificado poderão ser responsabilizados por falsidade ideológica e uso de documento falso. O prefeito ainda confirmou que documentos comprobatórios foram entregues ao Ministério Publico de Minas Gerais (MPMG).
Em nota, o promotor de Justiça Ubiratan Domingues informou que os casos serão encaminhados à Polícia Judiciária e ao MPMG para apuração de eventuais crimes de falsidade. O comunicado ainda informa que “o Município se comprometeu a alterar o procedimento de cadastramento para evitar futuras fraudes”.
Fura-filas e hospital suspeito
Segundo a Prefeitura, entre os 200 fura-filas, cerca de 100 chegaram a receber, pelo menos, uma dose da vacina contra a covid-19. No entanto, nenhum dos 17 homens que se passaram por grávidas conseguiram se vacinar.
A administração municipal também investiga se um hospital da cidade, que não teve o nome revelado, teria tentado facilitar a vacinação de parentes de membros da diretoria. A tentativa teria envolvimento ilegal de médicos. Os grupos definidos como prioritários na imunização são determinados pelo Ministério da Saúde. Todas as prefeituras devem, obrigatoriamente, seguir os critérios do Governo Federal.
com informações do UOL