Corpos de mulheres são sempre bem aceitos quando intuito é sexualizar. Manchetes com teor erótico envolvendo mulheres mostrando peitos e bunda, são campeões de acesso.
Porém, quando o corpo nu de uma mulher é exposto sem a conotação erótica, e porque não dizer, pornográfica, os cidadãos de bem não engolem.
Mostrar o peito numa campanha de lingerie? Ok, assim é a vida. “Cléo Pires sensualiza de camisetão e web vai ao delírio”? Que mal há?
Foi preciso uma lei estadual para que mulheres tivessem a segurança de poder amamentar em público sem o risco de passar por constrangimento.
E quando o corpo nu de uma mulher é usado como forma de protesto? Não! É inadmissível! Ofende as famílias e a fé cristã.
Então vamos falar das famílias: quando 68% dos abusos e violências sexuais contra crianças e adolescentes no Brasil acontecem dentro de casa e são cometidos por alguém próximo. Vamos falar das 5,5 milhões de crianças brasileiras que não têm o nome do pai no registro de nascimento. Também podemos lembrar que a cada hora, uma criança é vítima de violência (só em casos notificados). Ou que a cada duas horas, uma menina é estuprada, e também a cada duas horas, uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil.
E sobre a fé cristã? Um pastor de 52 anos foi preso por estuprar uma menina de 10 anos na Cidade Ocidental, município a 37 Km de Brasília. Ele estuprava a criança desde que ela tinha 5 anos. Um padre goiano foi excomungado pelo Papa Francisco acusado de assediar freiras e noviças. João de Deus era um líder da doutrina espírita, está preso e responde a 8 processos de abuso sexual.
Aparentemente, esses casos não chocam as famílias e a fé cristã. Mas uma mulher usando seu próprio corpo para protestar contra o governo mais inoperante, irresponsável e genocida da nossa história, sim.
Os cidadãos de bem não aceitam que uma mulher use sua nudez, a não ser que o objetivo seja provocar desejos sexuais em homens de meia idade que aceitam a azulzinha da Pfizer, mas abrem mão da vacina.