O Dia dos Namorados é comemorado neste sábado, 12 de junho. Muita gente talvez passe a data sofrendo por causa do fim de algum relacionamento, ou mesmo porque nunca teve o afeto correspondido. Agora, você sabia que na medicina a expressão “coração partido” é mais do que uma figura de linguagem?
“O amor é um dos sentimentos mais bonitos e empolgantes do mundo”, afirma o cardiologista Valério Vasconcelos. “Quando nos lembramos da pessoa amada, sentimos o vigor do nosso coração bater forte dentro do peito”. Mas, e quando o romance acaba? O que acontece com o coração?
“O fim de um romance pode fazer o coração sofrer e debilitá-lo de tal forma que isso pode ser confundido com um ataque cardíaco”, explica Valério Vasconcelos. O cardiologista lembra que quem já se apaixonou sabe como é ruim a perda da pessoa amada. “Como é ruim a dor de cotovelo! E não há nada de poético nisso. Podemos morrer por conta de uma decepção amorosa”, diz o especialista.
Na medicina, quem passa por essa situação é vítima da Síndrome do Coração Partido. “Também conhecida como doença ou Síndrome de Takotsubo, tal condição difere de um ataque cardíaco porque nela os pacientes em sua maioria se recuperam plenamente e, em geral, não sofrem danos duradouros no músculo cardíaco”, esclarece Valério Vasconcelos.
“Outra coisa é que não existe artéria obstruída por placa de gordura, como acontece no ataque cardíaco, infarto”. Mas os sentimentos de ausência e tristeza prolongada após a perda da pessoa amada, além do estresse emocional em longo prazo, podem ter efeitos catastróficos no coração, alerta o cardiologista.
Os principais sintomas da síndrome são dor torácica, falta de ar ou colapso semelhante a um ataque cardíaco. Em alguns casos, a pessoa pode sofrer palpitações, náuseas e vômitos. “Os sintomas são semelhantes aos de um infarto, sendo que, quando realizado o cateterismo, não há entupimento nas artérias do coração, mas ocorre deformação do ventrículo esquerdo, que fica praticamente paralisado e não consegue bombear sangue”, explica Valério Vasconcelos no livro “O coração gosta de coisas boas”.
Síndrome vai além das decepções amorosas
Metáfora muito utilizada para ilustrar a sensação de uma decepção amorosa real, a Síndrome do Coração Partido, porém, representa um quadro clínico que não se restringe aos relacionamentos afetivos. E está presente em outras situações.
“Perder alguém depois de anos de doença e de internação hospitalar, perdas financeiras vultosas, situações vivenciadas de extrema angústia, perda de parentes ou amigos queridos em acidentes, ser assaltado à mão armada, discussões acaloradas e até mesmo o choque de uma festa surpresa são também possíveis desencadeadores para a Síndrome do Coração Partido”, afirma Valério Vasconcelos.
PESQUISA – A Síndrome do Coração Partido é um tema tão relevante que a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) iniciou um estudo inédito sobre o assunto em 2020. Serão avaliados pacientes que tiveram a doença antes e após a pandemia de covid-19. Definida também como cardiomiopatia por estresse, a doença tem perfil desconhecido no Brasil e foi descrita pela primeira vez no Japão em 1990.
Após um quarto de século da descrição inicial, no entanto, a síndrome ainda é pouco compreendida pelos cardiologistas e frequentemente subdiagnosticada na prática clínica. Conforme artigo recente publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences, tal condição precisa ser adequadamente diagnosticada e acompanhada. “A Síndrome do Coração Partido foi associada a altas taxas de morbimortalidade em hospital terciário no Brasil, comparáveis às observadas na síndrome coronariana aguda. A gravidade da doença não deve ser subestimada e novas estratégias terapêuticas são necessárias”, reforça Valério Vasconcelos.
da assessoria