*Márcia Marques, especial para o Paraíba Feminina
Quem dera que a nossa vida se resolvesse como em toques mágicos, tipo aqueles que a gente se acostumou a ver em histórias da carochinha. Mas, infeliz (ou feliz) mente, a vida não é assim. Entre o sentir, o apropriar-se e o agir há uma ponte instável, quebrada e que passa por cima de um rio cheio de crocodilos. É o tal do empoderamento falado e sentido, mas distante do vivenciado.
É lindo e transformador ver o movimento feminista tomando conta das narrativas, das redes sociais, da mídia, dos espaços públicos (mesmo que ainda a passos tímidos). Nós, mulheres, estamos aprendendo a nos apropriarmos do discurso empoderador que nos faz perceber quanta coisa errada e equivocada nos rodeia e permeia nossa vida. Mas ao mesmo tempo, às vezes, a gente se sente presa ao medo, à insegurança e à falta de força para romper as barreiras.
Quer dizer que o empoderamento é uma falácia? Jamais! O empoderamento, segundo Bell Hooks (leiam essa mulher incrível), diz respeito a mudanças sociais numa perspectiva anti racista, anti elitista e sexista através das mudanças das instituições sociais e consciência individuais. E é justamente aí que esbarramos: na consciência individual.
É válido e salutar partilhar e se empolgar com narrativas de mulheres que quebram barreiras. Elas se transformaram nas nossas novas heroínas, sem príncipes salvadores ou fadinhas cintilantes. Mas quando saímos do mundo da observação e passamos para a prática, nos deparamos com nossas inseguranças, medos e desafios.
Dizer “não” quando tem vontade; pedir respeito naquela reunião de trabalho; denunciar abuso, violência e demais crimes; cobrar divisão justa do trabalho doméstico; dizer “não achei engraçado” quando ouve uma piada machista numa rodinha de amigos, a sexualidade, o casamento…. tudo isso, que parece bobo, é um rasgar de alma que só as mulheres sabem.
Se para você, que me lê agora, não foi tão difícil, acredite: eu estou super feliz e comemorando essa vitória com você. Ao mesmo tempo te pedindo: não julgue quem ainda não conseguiu. E se você faz parte desse segundo grupo, em uma, duas ou todas as situações, te digo: você não está só e nem é falta de empoderamento! É caminho, é processo! E essa certeza do caminhar em coletivo precisa ser o combustível para nos impulsionar pra frente. Precisamos passar pela ponte, admirar o rio, jogar comidas aos crocodilos e desfrutar da paisagem que nos aguarda do outro lado.
Quando passar por essa ponte você verá a dor que sentiu ao rasgar-se transformando-se em alívio e orgulho.