A morte do filho de Walkyria Santos e a erva daninha do ódio brasileiro

Acompanhamos nesta terça-feira (3) as trágicas notícias da morte de Lucas Santos, filho caçula cantora paraibana Walkyria Santos. Lucas foi encontrado morto em Fortaleza e a causa da morte ainda não foi revelada, apesar de várias mídias sensacionalistas terem feito o (des)favor de informar.

Num vídeo emocionado no Instagram, Walkyria diz estar desolada, acabada e sem chão “uma dor só quem perde um filho vai entender”. Enquanto mães e mulheres que sabem e sentem as angústias, dores e alegrias  da maternidade, nos solidarizamos com a dor de Walkyria, mas um ponto do vídeo que vale uma reflexão mais profunda, diz respeito aos comentários de ódio na internet.

Lucas havia feito vídeo no Tik Tok e recebido comentários homofóbicos extremamente ofensivos, e não teria suportado.

Quem trabalha com redes sociais convive diariamente com situações desse tipo. Nós do Paraíba Feminina apagamos comentários e bloqueamos usuários todos os dias. E aqui não estamos falando de opiniões contrárias, ou de divergência de ideias. Estamos falando de achincalhes desmedidos e até, ameaças de morte.

A pergunta que mais nos angustia é: De onde vem tanto ódio? O que leva um total desconhecido a entrar num perfil e destilar veneno, ódio e agressões contra alguém?

Podemos colocar na conta dos bolsolóides que se enxergam num presidente racista, machista e homofóbico que vomita ódio diariamente e não recebe uma única sansão por isso?

Podemos colocar na conta dos Sikeras da vida que ganham fama e muito dinheiro chamando os gays de “raça desgraçada”?

Podemos sim, mas isso é muito pouco.

Essa erva daninha que se espalha no Brasil não nasceu por geração espontânea. Ela já estava plantada por uma sociedade criada pela mistura de indígenas estupradas por europeus imundos e cheios de doença; por uma população escravizada e violentada por mais de 300 anos; por uma elite que nunca aceitou perder qualquer tipo de privilégio; e por uma classe social que, desde a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, se comporta como vira-latas para fazer parte do ‘clube’.

A rede de ódio que tirou a vida de Lucas já existia. Ela foi alimentada, regada e sustentada ao longo dos poucos séculos de nossa história enquanto sociedade brasileira. Mas brotou com flores fétidas e espinhos venenosos de 2018 pra cá.

O amor vai vencer o ódio? Vai! E nós precisamos acreditar e lutar por isso.

Mas não basta arrancar os espinhos, temos que puxar a raiz. Vai doer, vai machucar, vai sangrar em alguns momentos. E nós, com as mãos, o corpo e talvez até a alma um pouco ferida, vamos deixar uma terra limpa para plantar sementes coloridas de amor, inclusão, diversidade, senso de coletividade e justiça.

 

Taty Valéria

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