Janayne Leite desabafa: “É importante falar sobre abuso psicológico e se libertar disso”

By 19 de novembro de 2021Lute como uma garota, Paraiba

Janayne Leite era uma mulher dona de si, orgulhosa do seu trabalho e das suas conquistas. Mãe-solo, batalhava para poder proporcionar uma melhor estrutura para o filho e viver sua vida em paz. Mas Janayne tinha outros sonhos, que nem ela sabia que existiam e acabou sendo convencida de que tudo aquilo que ela lutava e acreditava, estava errado. Janayne foi levada a crer que precisava de proteção, de um homem que cuidasse dela.

Quantas de nós já caímos nessa armadilha? Quantas de nós já caiu na falácia do conto de fadas?

Mas os contos de fadas não existem. O príncipe encantado se torna um abusador e toda aquela vida sonhada e prometida, vira um verdadeiro pesadelo.

A história de Janayne, que vamos ler a seguir, é mais que um desabafo de uma mulher lutadora e ferida. É um grito de alerta duro de quem foi do céu ao inferno e quer deixar uma mensagem de esperança e conforto.

Feridas guardadas

Janayne é uma sertaneja que sempre teve muito orgulho de si, da sua família e da sua trajetória. Mãe-solo, saiu de casa aos 16 anos para estudar.  Formada em Enfermagem em 2013, se especializou em Enfermagem do Trabalho e chegou a gerir uma Policlínica em João Pessoa. O seu grande desejo? Conseguir ter estrutura e conforto para trazer de volta seu filho, que hoje moram com os avós maternos.

Tudo perfeito, não? Não! Janayne também tinha guardado o sonho de ter uma família e um lar cheio de amor. Essa era sua ferida mais bem guardada, seu ponto fraco. E foi justamente esse o ponto atingido, mas não só. Ela foi levada a crer que ser mãe-solo não era algo bem visto pela sociedade. Ela foi levada a crer que precisava de proteção e que um homem mais velho seria a pessoa ideal para cuidar de tudo.

Acreditei em promessas falsas de uma pessoa com bagagem de vida. Ele mexeu numa ferida, numa vulnerabilidade minha. Me colocou num lugar de mulher ‘sozinha’ e eu acreditei que isso era ruim”.

O começo de um sonho

Com menos de um mês de relacionamento, passaram a morar juntos. Os sinais de um relacionamento abusivo já estavam ali, mas Janayne só percebeu tempos depois.

Quem nunca?

Atitudes que pareciam ser de cuidado e atenção, nada mais eram do que desconfiança e desejo de controle.

Eu tinha minhas coisas para resolver e ele fazia questão de me acompanhar em tudo. Nessa época eu achava lindo porque eu pensava ‘esse cara é o homem da minha vida, esse cara está querendo cuidar de mim, está querendo ficar comigo’”.

Esse homem mais velho, rico e poderoso, era todo feito de gestos de amor. Conquistou não só Janayne, mas fez questão de conquistar sua família e seu filho.

Com pouco mais de três meses morando juntos, no que parecia ser enfim a felicidade e a paz, Janayne conta que ele chegou com documentos para ela assinar.

Basicamente era uma documentação que dizia que eu não tinha direito a nada.  Lembro que ele demonstrou ter ficado envergonhado com aquilo. Eu fiquei realmente constrangida, mas assinei.”

“Ele está te abafando!”

Janayne nunca ficou sem trabalhar. Além de gerir a Policlínica, ela também fazia os merchands da empresa, mas deixou o trabalho por não aguentar tantas desconfianças e cobranças. Mas ela gostava do que fazia e ele, por ser um homem poderoso dentro dos sistemas de Comunicação, se comprometeu em ajuda-la. Janayne chegou a gravar alguns pilotos, mas nada saía.

Todas as portas estavam abertas. Ele prometeu me ajudar e me apoiar nisso. Mas com um tempo, as oportunidades que iam aparecendo foram sendo colocadas para outras pessoas muito próximas a ele. Muita gente me alertou sobre isso, mas eu achei que as pessoas estavam enciumadas comigo

Ele está te abafando!

Ela não acreditou. Não acreditou que aquele homem, que havia dado tantas demonstrações de amor, cuidado e proteção, pudesse ser capaz de lhe tirar trabalho.

Nesse ponto, Janayne já estava naquele nível de dependência emocional e financeira que a fez ligar um sinal de alerta. Deixou seu emprego e sua liberdade para viver uma história de amor e agora se questionava se teria valido a pena.

“Meu Deus, o que foi que eu fiz na minha vida?”

Depois de 9 meses de relacionamento, veio o término. Um término doloroso, cercado de humilhações, ataques e calúnias.

Eu estava com covid e ele me disse que eu deveria deixar o apartamento em que estava morando. Me disse que precisava alugar e só não tinha feito ainda porque eu morava lá. Tive que chamar um amigo para me ajudar. Eu parecia uma sem teto, com minhas coisas todas num carro, me senti humilhada

Janayne estava sem trabalho, sem casa e sem esperança. Foi feito um acordo financeiro, mas isso era usado como moeda de humilhações e constrangimentos.

Ele não cumpriu em sua totalidade o acordo e ficava me mandando áudios me humilhando, dizendo que ele estava fazendo aquilo porque ele era bom, mas que não tinha nenhum dever. E isso foi bem duro de ouvir

Eu só pensava: meu Deus, o que foi que eu fiz na minha vida?”.

Um novo começo

Janayne foi atacada por pessoas próximas do seu ex. Foi atacada pelos seguidores dele. Foi acusada de extorsão e traição. Foi chamada de interesseira. Diante de tantos ataques, resolveu se defender. Nos vídeos publicados em suas redes sociais, ela desabafa. Assista aqui.

Não pensei que ia tomar essa proporção toda.  Eu quis fazer um desabafo, tentei retirar as mágoas, os rancores. O melhor disso foi perceber que muitas mulheres se identificaram com minha história, acabei sendo porta voz de várias mulheres e eu fiquei muito feliz com isso”.

No final das contas, Janayne percebeu o mais importante: ela não estava sozinha. Não era a única mulher a passar por isso e não deveria se envergonhar.

É importante a gente falar sobre abuso psicológico. É importante a gente falar sobre o que acontece na nossa vida, alertar pessoas que estão passando pela mesma coisa que a gente, e se libertar”.

 

Taty Valéria

Se você vive em um relacionamento abusivo, procure ajuda! Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie. Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

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