A notícia é terrível: um bebê com cerca de um mês de vida foi encontrado morto pela avó materna com sangue na boca, deitado em uma cama, ao lado da mãe, na casa onde a família mora em João Pessoa, na manhã desta terça-feira (4). Segundo a Polícia Civil, a avó materna foi ao quarto ver como o bebê estava e percebeu que ele tinha sangue saindo pela boca. Quando pegou o neto no colo, viu também que ele já parecia estar morto.
A mãe da criança estava dormindo na mesma cama e acordou com a reação da avó. Ela também tem outro filho, de três anos. O Samu foi acionado e um médico socorrista suspeitou que poderia não ser uma morte natural. Por acreditar que o bebê pode ter morrido por engasgo ou por conta da mãe ter dormido sem querer por cima dele, o profissional de saúde acionou a polícia. O resultado da necropsia do corpo do bebê deve sair em 20 dias.
A morte de um bebê sempre gera comoção, e gera cliques também. Outra coisa que gera cliques e debates intensos é a culpabilização da mãe. Um bom exercício de masoquismo (que eu não recomendo) é dar uma passada pelos comentários de certos perfis no Instragram que publicaram essa notícia.
Há no entanto, duas questões extremamente pertinentes nesse caso e que não foram devidamente analisadas com a importância que deveriam.
A primeira delas diz respeito à morte do bebê. De acordo com um levantamento da Ong Criança Segura, o sufocamento é principal causa de morte de bebês menores de 1 ano no Brasil. A sufocação acontece quando há obstrução das vias respiratórias, seja por brinquedos, alimentos pequenos, objetos macios e até mesmo com conteúdo gástrico. Um outro estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Virginia, nos Estados Unidos, aponta que 20% das mortes de bebês recém nascidos foram causadas por outra pessoa ter se mexido na cama ou ter dormido sobre os bebês. Ou seja, apesar de trágica, a morte de bebês por sufocamento é mais comum do que deveria.
No portal Criança Segura, você encontra dicas e sugestões sobre como evitar acidentes domésticos.
A segunda questão passou quase desapercebida de tão normalizada que se tornou: a mãe do bebê é uma adolescente de 15 anos, que já tem um outro filho, de 3. Pra quem ainda não entendeu, estamos falando de uma menina de 12 anos que sofreu violência sexual e foi obrigada a ser mãe, e por duas vezes.
Em nenhuma das matérias publicadas e veiculadas pelos diversos canais de imprensa, se fala sobre o papel do pai. É uma avó, uma adolescente, um bebê morto e uma criança de 3 anos. Terão essas duas crianças, o mesmo pai? Será o pai, um homem adulto abusador de uma menina de 12 anos? Onde está esse pai que não é responsabilizado por absolutamente nada?
Parece que estamos presos em 2021 e outra menina será responsabilizada criminalmente pela forma que cuidou, ou não, do filho.
E quem cuidou dessa menina? Quem cuida das nossas meninas?
Taty Valéria