Não é só denunciar! A história de uma paraibana que luta por justiça e pelo direito de viver em paz

Corria o mês de novembro de 2020. Mariana*, uma jovem de 29 anos, tentava reconstruir a vida no interior da Paraíba, depois de um relacionamento que envolveu agressões físicas e psicológicas, cárcere privado, um aborto provocado pelas agressões que sofreu e um estupro coletivo, que foi filmado.

Inconformado por não conseguir mais controlar a vida e a mente de Mariana, Uillan Cássio da Silva iniciou uma tentativa de extorsão contra a moça. Ou a jovem pagaria determinadas quantias em dinheiro, ou ele espalharia pela cidade as imagens do estupro que ela sofreu. Mariana não cedeu e a ameaça se cumpriu. Grupos de whatsapp foram criados com o único objetivo de divulgar os vídeos da violência.

Após as imagens tornarem-se públicas e diante de mais ameaças, ela procurou a polícia. O inquérito instaurado pelo delegado Elias Rodrigues, então titular da delegacia de polícia civil de Juazeirinho, concluiu que Uillan extorquia dinheiro da vítima sob ameaça de divulgar as imagens. Uma perícia também apontou que ele seria o responsável pela publicidade do material.

Em janeiro de 2021, parecia que o pesadelo de Mariana chegaria ao fim.

Após uma ação conjunta da Polícia Civil e Polícia Rodoviária Federal, e com a ajuda da própria vítima, Uillan Cássio da Silva foi preso na divisa dos estados da Paraíba e Pernambuco. O acusado foi encaminhado ao Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros – PJALLB, onde permaneceu detido preventivamente até o término do julgamento.

Uillan Cássio da Silva

Em março do mesmo ano, Uillan voltou a aterrorizar Mariana. De posse de um celular, mesmo dentro da unidade prisional e usando um perfil fake no Instagram, fez novas ameaças de morte à jovem.

Depois da ação de uma rede de apoio que incluiu Brasília, João Pessoa e Campina Grande, a vítima foi levada para um local seguro e protegido, dentro da Rede de Proteção à Mulher. A Secretaria Executiva de Ressocialização do Estado de Pernambuco localizou e apreendeu o celular, e o detento foi encaminhado ao Conselho de Disciplina da unidade.

Você pode reler essa história nesse link.

Mas o pesadelo de Mariana não parou.

Em junho, por uma decisão da juíza Ivna Mozart, também da Comarca de Juazeirinho, Uillan teve a prisão preventiva revogada. Entre os argumentos apresentados na decisão, a necessidade de ata notarial para garantia da autenticidade das mensagens trocadas (uma vez que as ameaças eram feitas por celular); ausência de consumação de delitos (uma vez que ele não chegou a receber nenhum valor da vítima); e por se tratar de réu primário.

Entre as medidas cautelares que deveriam ser cumpridas e que constam na decisão, manter a distância mínima de 200 metros da vítima; proibição de quaisquer contatos; proibição de sair da cidade de seu domicílio, Caruaru-PE; e recolhimento noturno.

algumas das dezenas de mensagens enviadas

Apenas a primeira cautelar foi cumprida. Uillan continuou ameaçando não só a vítima, mas estendeu a extorsão para familiares e amigos de Mariana, e autoridades envolvidas no caso. Ele fixou residência em Recife, e não apenas saía à noite, como postava suas farras nas redes sociais.

Em setembro do ano passado, um novo pedido de prisão preventiva, assinado por um delegado da Polícia Civil, foi encaminhado à Justiça por descumprimento dessas medidas protetivas.

Mariana foi inserida no programa de proteção da Patrulha Maria da Penha, que também encaminhou um relatório técnico à justiça, onde atestou que “…a vítima ainda se encontra em situação de risco e vulnerabilidade… e que o acusado descumpriu as medidas cautelares que lhe foram impostas”.

Mesmo com esses apelos, Uillan continuava livre, ameaçando Mariana e sua família, longe da cidade em que deveria manter domicílio e sem cumprir o recolhimento noturno.

Além disso, o acusado afirmou em juízo que trabalhava como motorista de Uber, mas ele cumpria horário numa casa de prostituição masculina, localizada em área nobre de Recife

O começo do fim?

Início do mês de janeiro de 2022. Novas ameaças de morte e novas tentativas de extorsão. Mais um Boletim de Ocorrência e mais um pedido de prisão preventiva.

Ao longo do ano de 2021, Uilian ameaçou não só Mariana e sua família. O delegado Elias Rodrigues, que comandou a primeira investigação, também foi ameaçado. A jornalista Taty Valéria, editora do Portal Paraíba Feminina, idem.

Uillan foi finalmente preso em Recife no início da tarde de 13 de janeiro. De acordo com informações recebidas com exclusividade pela nossa redação, ele resistiu à prisão e alegou inocência.

O acusado passou a noite detido na Delegacia da Mulher de Santo Amaro e no dia seguinte foi encaminhado para o COTEL – Centro de triagem de Abreu e Lima, região Metropolitana Recife.

Depois da prisão, que foi noticiada em alguns programas policialescos de Pernambuco e da Paraíba, parentes de Uilan começaram, também, a ameaçar Mariana.

Para a vítima a prisão de seu agressor pode até ser um alento de justiça, mas isso não devolveu sua tranquilidade. “Eu só quero ter paz e poder reconstruir minha vida”.

E nós esperemos que em algum momento, essa história tenha um fim.

 

da redação

 

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