Só aqui na Paraíba, o aumento da taxa de desocupação das mulheres saltou de 13,3% em 2019, para 19,3% em 2020, acima da média nacional. Sílvia* faz parte desse contingente, e desde que se viu na fila do desemprego, distribui currículos à procura recolocação profissional.
No aplicativo OLX, ela encontrou uma vaga de recepcionista de clínica médica, e se interessou. No anúncio, um número de whatsapp, e um nome: Recep Vaga.
“Não é incomum que empresas de pequeno porte postem vagas no Facebook ou OLX, especialmente quando se trata de vaga temporária. Entrei em contato com o número e a conversa foi bem profissional. Na descrição estava lá ‘doutora Mariana Pereira’ e a foto de uma senhora”, afirma Sílvia.
Depois de uma conversa, em que Sílvia respondeu um total de 8 perguntas, a pessoa no perfil afirmou que entraria em contato.
“No outro dia, a pessoa me mandou mensagem dizendo que estava analisando as minhas respostas e o meu currículo, e que mais tarde me retornava caso eu tivesse passado na análise”.
Sílvia afirma que no dia seguinte, a tal Mariana Pereira entrou em contato com uma ótima notícia: ela havia sido aprovada para a vaga! “Ela me disse que eu deveria fazer os exames admissionais e perguntou inclusive o tamanho do de roupa que eu usava, para poder fazer minha farda”.
A jovem foi orientada a fazer fotos dos seus documentos, que seriam cadastrados, e foi informada que deveria fazer três exames médicos: um exame de Covid; o exame admissional; e um exame de audiometria.
“Ela me disse que a empresa iria custear os dois primeiros exames, mas o de audiometria, eu deveria pagar. Foi aí que ela me ofereceu fazer numa clínica ‘parceira’, em que eu teria um desconto”, diz.
Como forma de agilizar o processo, Sílvia aceitou a oferta de fazer o exame de audiometria pela clínica indicada. Por meio de um pix, a jovem transferiu R$ 78,90 para a conta de Maria Salete Fernandes Pitanga, e o golpe se fez.
Ela nos contou que tentou, sem sucesso, fazer contato com a tal Mariana Pereira. “Eu mandei várias mensagens de hora em hora e a pessoa on-line visualizando as mensagens, mas sem me responder. Foi nessa hora que imaginei ter caído num golpe.”
Sílvia pesquisou o nome e a imagem que apareciam no contato: quem se apresentava como Mariana Pereira, recrutadora, na verdade era Maria Conceição Lourenço, médica ginecologista, de 56 anos, e que faleceu em decorrência da Covid em 2020, no munícipio de São Bento do Sul, em Santa Catarina.
Como se proteger?
Paula Praxedes, especialista em recrutamento desde 2015, traz algumas dicas sobre como se prevenir de prováveis golpes.
“Todo processo seletivo tem seus pré-requisitos que envolvem formação escolar, experiência na área especificada, etc. Desconfie de propostas com ganhos muito altos, desproporcionais à função e que não exijam qualificação”, afirma.
Paula também afirma que não é incomum realizar entrevistas de emprego pelo whatsapp. “A entrevista de emprego pode ser feita por qualquer plataforma de conversação, até mesmo pelo chat do facebook, isso não é um problema”, diz Paula, que faz um alerta:
“É sempre indicado pesquisar sobre a empresa nas redes sociais. Procure informações no linkedin, ou mesmo no Google. As pessoas podem pesquisar reputação das empresas se chama Glassdoor.”
Mas o maior e principal alerta deve ser em relação à cobrança de valores. Qualquer tipo de exame médico deve ser pago pela empresa. Também não se deve cobrar qualquer tipo de taxa do candidato.
“Não se pode cobrar por envio do currículo, locomoção, nem taxa de manutenção. O candidato à vaga não deve pagar nenhum valor para conseguir uma vaga”.
“Os golpistas se aproveitam da crise econômica e do desespero das pessoas em conseguir um emprego. Nenhuma empresa de recrutamento deve cobrar dos candidatos, nem durante o processo seletivo e nem depois da contratação”, diz.
Sílvia fez um Boletim de Ocorrência e divulgou o caso em suas redes sociais. Outras vítimas entraram em contato e até o momento, pelo menos mais 5 pessoas caíram no golpe e também fizeram B.O. Os casos seguem em investigação.
Taty Valéria
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