O projeto Paraíba Feminina entrou no ar em maio de 2019, primeiro o blog, depois o instagram, e agora o Podcast.
O blog virou portal, o Instagram está perto da marca do 20 mil seguidores e as fronteiras paraibanas foram abertas.
Participei de seminários, mesas de discussão, eventos diversos e meu grande mimo: formação sobre mídia e violência de gênero para inúmeras turmas do ensino médio da rede pública e do EJA – Educação para Jovens e Adultos. Esses espaços foram especialmente preciosos pois consegui chegar num público que não tem familiaridade com os termos acadêmicos, assim como eu própria não tenho, e essa “conversa” dentro de uma linguagem acessível e entendível, de ambos os lados, conseguiu atingir exatamente o meu objetivo, levar informação para quem busca por ela.
Nesse tempo, produzi matérias que ajudaram a levar abusadores e assediadores para a justiça. Denunciei, investiguei, conversei com mulheres que ainda passavam pela dor do trauma. Ouvi muito choro e chorei também. Ouvir e destrinchar conteúdos tão densos consumiu minha saúde mental e cheguei muito perto de um colapso, e não foi só uma vez.
Sofri ameaças de morte e por um tempo, fiquei com medo de sair de casa. Precisei fazer Boletim de Ocorrência. Meu nome consta como testemunha em dois processos que correm na justiça.
Você me pergunta pela minha paixão, digo que estou encantada por tudo o que faço. Me identifiquei, em maior ou menor grau, com todas as histórias que acompanhei e contei. Chorei por mulheres que eu nunca vi. Me indignei por injustiças que nunca irão me atingir. Mas é disso que é feita minha essência.
É possível que você já tenha ouvindo de mim a expressão “O Paraíba Feminina é como um filho caçula: dá muito trabalho, dá muito gasto, mas me enche de orgulho”. Esse sentimento permanece, e por isso me dói tanto a expectativa de fechar a página.
Estamos em ano de eleições. O conteúdo do portal não é “interessante” dentro do contexto de um estado que respira e vive de política a cada dois anos. É a política local que movimenta a mídia e todas as esferas de poder. Sim, tudo é política, inclusive os feminicídios, os abusos, as violações, os autoritarismos e as injustiças. Mas a discussão política que esses fatos geram, não rende votos. Eu tenho total consciência, sem falsa modéstia, que sou muito boa no que faço. Tenho total consciência que esse portal tem um potencial imenso. Mas, como disse, isso não rende votos.
A culpa é de quem? Do governo? Da prefeitura? Dos deputados? Vereadores? Senadores? Se não apontar um culpado, qualquer denúncia vira poeira. Uma palavra mal colocada numa manchete pode gerar suspeitas de apadrinhamento. Uma postagem no twitter leva a especulações. Uma curtida no instagram em determinado perfil é um atestado de apoio. Um encontro aleatório num samba qualquer do Centro Histórico vira debates eternos nos gabinetes da vida. Sim, você precisa se posicionar! E eu me posiciono sempre, minhas preferências políticas jamais foram segredo, mas isso não é suficiente.
Desde o meu primeiro emprego como estagiária, e lá se vão 20 anos, jamais saí fechando portas. Mantive e mantenho a amizade e contato com todas as pessoas que trabalhei desde então. Algumas se tornaram íntimas, firmes como rocha. Os grandes se aliam, brigam, se aliam novamente, isso não me interessa. Como costumo dizer, sempre fui da baixa patente, e minha relação com ela continuou intacta com quem sem propôs à isso.
Voltando para o objetivo desse texto: caso algo muito sensacional não aconteça nos próximos dias, o portal Paraíba Feminina vai entrar em período de hibernação a partir do dia 1º de maio. Não há meios financeiros de mantê-lo. Além de mim, outros profissionais também dispõem de tempo à ele. Existem impostos. Existem atualizações. É preciso dedicação para apurar, escrever. A qualquer nova pauta que chega, preciso avaliar se aquilo vai atingir alguém de alguma forma e preciso decidir se ela é publicável, ou não. Essa análise me fez engavetar dezenas de fatos que seriam, e ainda são, de interesse público, e isso vale para todos os lados. TODOS OS LADOS. Não estou culpando A ou B. Estou culpando o alfabeto inteiro, e isso me inclui também.
Sonhos não pagam boletos, sonhos não me protegem de ameaças explícitas e veladas. Sonhos só me protegem da realidade, que está posta: não existem meios de realizar um jornalismo independente no estado da Paraíba.
O Instagram e o Podcast irão continuar e a campanha no Apoia.se continua firme, as doações pelo pix ([email protected]), idem. Gratidão para quem colaborou e vai seguir colaborando. Sigam o Paraíba Feminina, comentem, compartilhem, ouçam.
Quando o gelo do inverno derreter e as flores da primavera voltarem a nascer, eu volto com uma linda margarida presa no cabelo.
Gratidão a todos, e desculpem qualquer coisa.
Taty Valéria