Ele chegou de mansinho, com cara de choro, sendo educado e gentil. De repente, um país inteiro se viu solidário a Arthur Aguiar. Sua esposa, a influencer Mayra Cardi – que em 2020 expôs publicamente as situações abusivas vividas por ela durante o casamento com Arthur Aguiar, exibiu vários momentos em que o ex-marido teve crises de ciúmes e mostrou um vídeo dos pontos da cesárea estourados por cuidar sozinha da fila recém-nascida – se viu no papel de vilã.
“Ahhhh gente, coitado dele, teve que sair de casa pra poder comer pão”.
Os motivos que levaram Mayra a perdoar o marido são íntimos e não nos cabe tecer comentários. Aqui vamos falar sobre o coletivo, o público.
O discurso é um só: se ela perdoou, quem sou eu pra julgar?
O fato é que o ‘pãozinho’, ao que tudo indica, irá ganhar a edição do BBB22 numa das piores edições dos últimos tempos.
Mas vamos ao que interessa: por que Arthur Aguiar tem essa simpatia toda? A resposta é óbvia: ele é um homem branco, e homens brancos são sempre perdoados. Mas para além do óbvio, o que esse homem representa, especialmente para uma legião de mulheres que trocam insultos e agressões nas redes sociais para defendê-lo?
O homem que foi consertado
Nós mulheres fomos criadas para sermos as únicas responsáveis pelo sucesso, ou fracasso, das relações. Mesmo que você, mulher, seja exemplar no cuidado da casa, dos filhos, tenha um bom emprego, esteja sempre arrumada e disponível… a culpa de uma eventual traição, abuso ou violência, será sua. Algo você fez errado, ou deixou de fazer.
Aquele homem imaturo e negligente? Nada que uma mulher forte não conserte. Ele não demonstra interesse em fazer sexo com você? Claro, você está gorda e velha, não se cuida! Ele te trata mal em público? A culpa é sua que não se valoriza!
Arthur representa uma das maiores lendas urbanas no campo dos relacionamentos: “o homem que foi consertado”.
Ele mentiu, traiu, foi abusivo. Mas a esposa soube ter paciência, discernimento, soube se adequar, engoliu o escárnio público. Ela venceu! E mais uma vez, repito: aqui não é sobre o relacionamento íntimo do casal. Se isso funciona pra eles, que assim seja.
Aqui é sobre a representação pública da jornada do herói, ou no caso, da heroína:
Se ela conseguiu transformar aquele homem num companheiro descente, nós mulheres também somos capazes, é só querer!
Só que não.
Taty Valéria
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