Uma breve história de apresentações:
Enquanto eu exercia minha função de assessora de imprensa parlamentar, acompanhei minha assessorada num programa de rádio que celebrava o 8 de Março. Era uma edição especial, apresentado só por mulheres e com mulheres convidadas. Vereadoras, deputadas e mulheres de destaque no cenário de João Pessoa. A dinâmica era rotativa e calhou de, no momento em que minha assessorada ocupava a bancada da rádio, Maísa Cartaxo, então “primeira-dama” da Capital, chegou junto.
O rótulo de primeira-dama, uma função cheia de estereótipos e por vezes mal colocada, não cabia naquela mulher. Maísa tinha sua própria presença, e para além do sobrenome, sempre soube do seu próprio tamanho.
Sertaneja de Cajazeiras, viveu sua infância com seus pais e mais sete irmãos no sítio Guaribas. Graduada em Farmácia pela UFPB, foi bolsista de iniciação científica, possui Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado na mesma instituição, e aos 26 anos, ingressou como professora de Farmacologia na UFPB por meio de concurso público de provas e títulos.
Voltando à entrevista, Maísa tinha como objetivo falar sobre um dos programas da Prefeitura que ela coordenava, o Sereias da Penha, criado em 2015 com o apoio da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) e do Sebrae. O projeto possibilitou capacitação, profissionalização e geração de renda para as participantes que a partir disso, decidiram se juntar para produzir artefatos utilizando a escama de peixe. O programa era um sucesso e já tinha ultrapassado as fronteiras paraibanas.
Mas eis que, no meio de mulheres ditas empoderadas e que ocupavam cargos de poder, uma delas surge com a velha pergunta que possui um peso assombroso: “Qual a sua influência nas decisões do seu marido?“. Maísa tentou se esquivar, ela não estava ali para falar do seu marido. Seu marido, o prefeito, já tinha mídia suficiente para falar de si. O constrangimento foi geral.
A pergunta feita à então primeira-dama traz uma questão simbólica: resume seu papel à influência, ou falta dela, nas ações do marido.
Ao contrário de sua sucessora, Maísa não sentava nas cadeiras da gestão para dar ordens aos servidores. Também não usava sua posição para fazer auto publicidade de clínicas de estética e salões de beleza. Além da Sereias da Penha, coordenou o João Pessoa Artesã, Celeiro Espaço Criativo e Chá Solidário, numa proposta de gerar emprego e garantir o protagonismo feminino.
Informações extra-oficiais (porque as pessoas precisam pagar boletos) dão conta que o anúncio do nome de Maísa Cartaxo como vice-governadora causou um alvoroço nos remanescentes da antiga gestão que ainda atuam na atual. É um nome que não precisa de vacinas contra eventuais manchas em sua trajetória, não deixou inimigos e soube, como poucos, entrar e sair dos lugares por onde passou.
Queira você goste, ou não, Maísa é um suspiro dentro de uma disputa coordenada por homens.
Taty Valéria