Para eleger Ciro, vote em Lula! Política e relacionamentos: escolhas ruins para 2022

Por Priscila Werton

Eu prefiro os boys de direita tradicionais. Esses dias conheci um boy de esquerda tão diferenciado que fiquei assustada. Cresci ouvindo que a filha da vizinha escolheu demais e por isso “ficou pra tia”. Então é errado ter critérios e escolher (demais)? O certo é aceitar o tipo de homem que encontramos no mercado hoje em dia? É melhor um bosta de homem do que homem nenhum? Prefiro a segunda opção, e vamo combinar? Tô bem de tia, acho que vou ficar pra ela mesmo.

#POLLYANNASENADORA

Seria o certo se relacionar com homens de inteligência emocional, pensamento político e habilidades sociais pouco desenvolvidas para escapar do carma social de “ficar pra tia”? Mulheres aceitam pouco por que querem ou por que a construção familiar e do núcleo de convivência delas as ensinou que antes qualquer homem do que homem nenhum? Acho que conto nos dedos de uma mão os maridos de amigas que admiro. Já minhas amigas… morro de orgulho delas, mulheres feministas, mães, inteligentes, irreverentes… a maior parte delas está solteira, não porque é exigente demais ou porque feminista é feia (esse aqui não mesmo hahaha) ou porque não se cuidam, o contrário disso.

Vejo minhas amigas na terapia, na academia, sendo vaidosas, cuidando de seus corpos e de suas saúdes física e mental muito bem, logo, grande parte está solteira com razão: por que deixar que homens que não chegam aos seus pés entrem em suas vidas se nada têm a acrescentar? A satisfação social do casamento é mais importante do que a felicidade e o bem-estar de uma mulher? É a mulher que carrega o carma ou o homem que tem tão pouco a oferecer que antes a solitude do que uma ruim companhia?

Os esquerdomachos estão evoluindo, as vezes penso que estou ensinando os machoescroto a enganarem a gente com meus textos… alguém quer dar uma opinião sobre isso? Me respondam no Instagram @priscilawerton

Como disse lá no início, tenho olhado com mais simpatia para os boys de direita tradicionais. O boy de direita é escancaradamente limitado em sua inteligência política e muitas vezes até se orgulha disso, o que é ainda mais cômico, me poupando qualquer surpresa sobre seu comportamento previsível.

Já o esquerdomacho se sente superior, diferenciado, todo metido a progressista, alternativo, aprecia as boas coisas da vida, até que ele solta um: “a culpa do Bolsonaro estar no poder é de Lula” ou “nessa eleição eu voto em Ciro” e aí você percebe que é só a outra face do mesmo boy lixo. A culpa do Bolsonaro estar no poder é do PT? Ou de Lula? Essa discussão foi comum na minha DM essa semana…

Vamos voltar ao básico:

Quando você estava lá no maternal, na escolinha e brigava com seu coleguinha por qualquer motivo que fosse e fosse você o provocador, você que fez a piadinha, que riu… e aí seu amiguinho te bateu, de quem foi a culpa do tapa? Por esse raciocínio político de culpar o PT, a culpa de ter apanhado é sua então, certo? Quem bateu foi o outro, mas já que não estamos responsabilizando as pessoas pelos seus atos, a culpa da atitude do outro seria sua.

Extrapolando esse exemplo pra vida adulta, uma pessoa é a única responsável pelas suas atitudes (pasmem, tem boy que não sabe disso e acha que a culpa pelos problemas de sua vida é da sua mãe, da namorada, sei lá de quem, menos dele) então quem bate é o responsável pelo ato de bater, porque foi ele que usou seu pensamento e decidiu que iria bater, usou sua mão e bateu. O que provocou só pode ser responsabilizado pela provocação, pela agressão física não, afinal não foi ele que fez.

Esse raciocínio é discutido lindamente no livro Comunicação não violenta de Marshall B. Rosenberg, livro que já discuti bastante em outras colunas. Sendo assim, se eu sei que tem um candidato a presidente do Brasil que é machista, homofóbico, racista (isso era o que a gente já sabia na época da eleição, no contexto da pandemia se adiciona mais uma vasta lista de problemas/crimes a ele) e eu decido votar nele, a culpa é do outro candidato que não mudou de estratégia? É do outro partido que estava envolvido em escândalo? Ou a culpa é minha que resolvi que esses problemas/crimes são aceitáveis e fui lá e assumi a responsabilidade, através do voto, dessa criatura chegar à presidência? Foi uma questão de ideologia política ou de renunciar a valores que na real não eram tão importantes assim para você?

Prezado homem, se você acha que a culpa de Bolsonaro estar no poder é do PT e/ou de Lula, tendo você votado em Bolsonaro ou anulado/justificado seu voto, sabendo que no contexto da eleição passada isso ajudaria a eleger Bolsonaro, isso significa que machismo, racismo e homofobia não são problemas (e crimes) tão graves assim pra você e ou que você não entende que suas atitudes são responsabilidades suas, até quando você escolhe não tomar atitude nenhuma. Vamos acordar pra vida e deixar de ser mimado e entender que o único responsável pelas consequências dos seus atos é você? O Brasil agradece.

Vou te indicar mais um livrinho: Inteligência Emocional de Daniel Goleman, com esses dois livros você vai entender isso que estou falando e, talvez, aceite melhor essas ideias depois da leitura, já que ambos são de autores homens. Entenda que a inteligência emocional é uma habilidade construível, então sente a bundinha na cadeira e vá construir a sua.

Agora vamos entender qual é o problema de ser Cirista hoje. O cenário político do Brasil de hoje não é de oposições de ideologia política. A discussão não é sobre apoiar ou não o neoliberalismo, o assistencialismo nem a legalização ou não do aborto ou drogas (embora precisasse ser).

No 2022 protagonizado por Lula X Bolsonaro o que está em jogo não é ideologia política. É a retomada de um Estado estável, laico (minimamente que fosse antes de Bolsonaro), reestabelecimento de que: machismo, homofobia, racismo e negacionismo científico não são coisas boas e que não existe opinião discordante quando o assunto é crime. A gente não está discutindo projeto político, a gente está discutindo a garantia da Democracia e a defesa do nosso Estado Democrático de Direito. A eleição de 2022 é sobre isso. Pôr um fim a essa angústia no primeiro turno é mister! Não dá para ficar dividindo voto agora, discutindo ideologia política do PT ou plano de governo porque do outro lado não é de ideologia política que estamos falando, é de fascismo e ditadura.

Antes de pensar em eleger Ciro ou qualquer outro, nós precisamos garantir que tenhamos eleições com urnas eletrônicas no futuro, que tenhamos um sistema democrático até para poder eleger Ciro um dia. Para que um dia possamos discutir plano de governo Ciro X Lula, hoje precisamos votar em Lula. Então, se você é Cirista, hoje deveria estar tão preocupado em votar em Lula para que ele ganhe no primeiro turno quanto eu, que sou Lulista desde que me lembro.

Primeiro você garante a Democracia, lá na frente a gente discute em votar ou não em Ciro, agora a gente precisa garantir o direito de votar e de ter um processo de eleição democrático e legítimo. Ciro está insistindo nessa candidatura em um péssimo timing, infelizmente a vaidade dele está sendo maior do que o projeto para o Brasil, de novo. Hoje, o único candidato que tem chance real de acabar com essa palhaçada de fascismo no poder é Lula, gostem ou não gostem dele, é ele que pode tirar do governo o Bolsonaro e tudo que ele representa. Votar no Ciro hoje é uma grande ilusão ideológica, quando não estamos tendo discussões sobre ideologia política e sim sobre crimes e catástrofes contra a humanidade. Votar em Ciro agora é uma ingenuidade, um grande erro. Mostrem que vocês aprenderam alguma coisa no maternal e votem no Lula.

#lula2022presidentedobrasil

Voltando ao boy diferenciado que conheci recentemente, esse já leu CNV e pensa antes de falar. Escolhe as palavras em um discurso eloquente, metido a filosófico e evasivo que evita o embate direto e posicionamentos polêmicos, já se posicionando. No fim ele é mais do mesmo disfarçado o que me tomou mais tempo para perceber… acha que é aceitável em alguma perspectiva que ele escolha as minhas roupas e ou se incomode com elas, além de que quando contei brevemente sobre traumas de relacionamentos passados, ele encontrou formas sutis de dizer que não achou tão errado assim o comportamento dos outros caras fazendo com que eu me sentisse culpada por ter me magoado “sozinha”. Na tentativa de ser fofo e me manipular, fez comentários do tipo “tão linda e tão bravinha”. Muito pobre esse pensamento de mulher ser brava. Primeiro que desqualifica as lutas das mulheres, fazendo parecer que as nossas motivações são emocionais e não legítimas. Segundo que não acho que mulher seja brava, mulher precisa ser ouvida, usa os artifícios que tem. Vocês nos silenciam constantemente e quando precisamos nos impor para sermos vistas e ouvidas aí somos bravas? Não. Eu não sou brava, sustento meus posicionamentos.

Acho engraçado o jeito do boy de esquerda de pensar que é desconstruído, que não é machista, mas no fim das contas é um grande machista, o que combina direitinho com Ciro, que pensa que é progressista e na verdade é só uma vertente da antiga direita.

Essa romantização da mulher brava é grave. Não existe nada de bonito em você ter que ser firme o tempo inteiro para ser ouvida.

Quando falamos sobre filhos, ele ficou indignado quando soube que não sei se quero ter filhos, fez comentários absolutamente inconvenientes e ofensivos do tipo “nossa função na Terra é reproduzir, como você não quer ter filhos?” Achando que eu tenho que ter filhos, mesmo eu não tendo perguntado a opinião dele sobre a minha vida. E ainda pensa que é um superpai quando apenas tem participações pontuais na criação de suas duas filhas, pois investe em sua carreira profissional que o faz fazer viagens constantes, levando uma vida de aventureiro, deixando as mães ancoradas ao papel de mães de suas filhas.

Aproveitando que ontem foi o Dia dos Pais, faço uma reflexão: no Dia das Mães se comemora o dia da figura feminina que nos cuida. No Dia dos Pais se comemora a figura masculina que nos cuida. Considerando que as funções do cuidado como educação, suprimento afetivo, exemplo, presença não são divididas igualmente, na esmagadora maioria das vezes, acho que as mães merecem uma comemoração e 1/2. No Dia das Mães deveríamos celebrar as mães e no dia dos pais os pais e as mães, que cumprem o papel do pai quase sempre, completa ou parcialmente. Então, Feliz Dia dos Pais para os pais que são pais e para as mães que são mãe e pai, e para os pais que são meio pais, como esse, feliz 1/2 Dia dos Pais.

Até.

Me acompanhem no Insta @priscilawerton

 

@priscilawerton é médica, feminista e defensora do SUS

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