Moradora da cidade de Guará, cidade satélite de Brasília, Geovanna Nascimento passava pelo período de experiência no Atacadão Farma. Em 11 de agosto, após o expediente, a jovem aceitou o convite de um colega de trabalho e sua namorada para beber e conversar na casa deles. Em determinado momento da noite, ela sentiu que já não estava tão lúcida.
Geovanna foi colocada na cama do casal, e o que lembra são apenas flashes de memória. “Lembro dela me beijando e o homem me tocando. Apaguei de vez e quando acordei, ele estava sentado na cama, eu sem minha calça e minha calcinha, sem entender nada direito. Fingi que estava tudo bem para que eles pudessem me deixar em casa”
A princípio, ela não quis denunciar. “Eu falei pra minha mãe e irmã que não denunciaria porque eu sei o que uma mulher passa ao denunciar um caso desse. Eu estava em experiência e ele já trabalhava lá a muito tempo”. Convencida pela irmã, a jovem fez o que julgou correto: falou com o chefe no trabalho sobre o que tinha acontecido. Prontamente o gerente acompanhou na Delegacia para registrar o B.O. Geovanna passou por exame de corpo de delito e um inquérito foi aberto por estupro de vulnerável. De acordo com o primeiro artigo da Lei 12.015/2009, a condição de vulnerável é entendida para as pessoas que não tem o necessário discernimento para a prática do ato, devido a enfermidade ou deficiência mental, ou que por algum motivo não possam se defender.
Apesar da violência que sofreu, a moça tinha a ilusão de que as coisas estavam voltando aos eixos e com o salário do Atacadão Farma, ela planejava procurar atendimento psicológico para lidar com o trauma. Mas não foi isso que aconteceu.
Em 15 de agosto, a jovem foi dispensada com a alegação de que a empresa “proíbe relacionamentos entre os funcionários”. Apesar de ter acompanhando a vítima até a delegacia, o responsável pela empresa julgou um estupro como “relacionamento”. Ao contrário de Geovanna, demitida 4 dias depois da denúncia, seu “colega” e agressor teve demissão adiada, com a justificativa de ter mais tempo de empresa e teria esse direito resguardado pela lei.
Geovanna publicou seu relato em uma rede social e logo após, o gerente entrou em contato com a jovem para dizer que o funcionário também seria demitido naquela mesma semana.
“Não consigo dormir ou comer direito”
A vida de Geovanna agora gira em torno de tentar se reerguer emocionalmente. “Eu não consigo dormir facilmente. As vezes minha irmã, ou uma amiga dormem comigo, mas nem assim consigo. Também não consigo comer direito, no máximo faço uma refeição por dia. E sem falar na sensação de tomar banho e sentir nojo de tocar ‘lá’”.
Apesar de receber muito apoio da mãe e da irmã, Geovanna vive no medo. “Eu fico pensando na cena e nele vindo me procurar toda hora”.
A empresa Atacadão Guará foi procurada para justificar a demissão de Geovanna, mas até o fechamento dessa matéria, não retornou nossos contatos. O espaço está aberto.
Taty Valéria