Para quem tem uma mínima noção de consciência política, os últimos 4 anos (ou 6, se contarmos com o golpe contra a presidenta Dilma) foram de um combate diuturno contra o estado de caos que se instalou no Brasil. Passadas as eleições de 2022 e com um breve momento de respiro, ainda estamos lidando com violências que ainda ameaçam nossa democracia e o nosso sono.
Sobre as diversas formas de violência que ainda precisamos lidar, uma delas, bem específica, tem me incomodado de forma insistente: a violência simbólica contra mulheres que tiveram destaque nas eleições e que mesmo não tendo alcançado o objetivo de se eleger, demonstraram uma força absurda que se sobrepôs ao machismo estrutural e à falta de recursos financeiros e que agora precisam lidar com a “benção” de homens que se colocam como detentores de seus destinos e que não possuem qualquer tipo de constrangimento em dizer em alto e bom som “quem manda aqui sou eu”.
O presidente Lula têm demonstrado um esforço reconhecido em preencher algumas vagas estratégicas do primeiro escalão do governo com mulheres capazes de cumprir as tarefas à que estão sendo designadas. Infelizmente, essa mentalidade ainda não chegou até aqui, na Paraíba. É certo que vivemos num dos estados mais machistas e misóginos do país e não há aqui qualquer utopia de que essa situação irá mudar num prazo curto, ou mesmo longo, mas até quando estamos todas nós inseridas nesse contexto social, alguns sapos continuam muito difíceis de engolir.
Se você ainda não entendeu do que estou falando, vamos aos fatos: os homens eleitos no último pleito se portam como donos dos cargos federais e estaduais e eles têm decidido quais mulheres podem, ou não, assumir qualquer coisa. Homens brancos, filhos de oligarquias, ou que estão na vida política há mais tempo do que eu tenho de vida, e que sim, são do campo progressista, o que em tese, deveriam ter um comportamento público menos machista (sim, eu ainda sonho).
Aqui não tem ninguém inocente. Trabalho nos bastidores da política paraibana desde 2008. Sei como algumas coisas funcionam e, concordando ou não, o sistema é esse. Mas passados 14 anos, posso me dar ao luxo de cansar de certas coisas e meu sistema nervoso não suporta outra crise de gastrite depois de presenciar mais uma cena constrangedora de violência política contra mulheres. Mas não falo aqui sobre os acordos políticos, não é sobre isso.
É sobre se posicionar publicamente como dono e proprietário do destino político de mulheres que não precisariam de qualquer tipo de atestado de competência, porque elas já demonstraram isso em sua vida pública.
“Não [não vai para o governo Lula]”
Taty Valéria