Na última quarta-feira (8) publicamos aqui trechos do relato de um ex-funcionário da Braiscompany, empresa de investimentos campinense envolvida em escândalos e que atraia clientes com promessas de rendimentos de até 10%. Se você não leu a primeira matéria, ela está postada ao final desse texto.
Nessa segunda e última parte, vamos abordar outros pontos interessantes sobre a dinâmica cotidiana de uma empresa que se estabeleceu como “a maior gestora de criptoativos da América Latina” mas que não passava de uma grande fachada de esquema de pirâmide. Veja mais sobre isso aqui.
Ligação próxima com Igrejas Evangélicas
Na noite da última terça-feira (7), foi realizado um debate sobre o caso Braiscompany no spaces, puxados pelos jornalistas Cógenes Lira e Gustavo Xavier, onde também tive oportunidade de participar como jornalista convidada. Uma das falas que me chamou atenção versava sobre a possibilidade da participação de igrejas evangélicas de Campina Grande entre os investidores. Essa possibilidade foi levantada novamente por nossa fonte, que não participou desse debate.
“Desde o começo, acompanhei a entrada e saída de pastores de algumas igrejas. Eles fizeram um culto com aquele pessoal da Bola de Neve e aquele pastor Daniel tinha uma amizade muito grande com o pai de Antonio”.
O pastor Daniel Nunes era presidente da Assembleia de Deus de Campina Grande. Em junho de 2022 veio à tona que ele mantinha um relacionamento extraconjugal com uma cantora jovem da igreja. O salário do pastor Daniel era de R$ 40 mil por mês, fora o dos filhos, sobrinhos, genro, irmão e cunhado, o que custava aos cofres da igreja R$ 1 milhão e 144 mil por ano. Leia mais sobre isso nesse link.
“Tinha uns indicativos que rolava muito dinheiro desses pastores, porque eles vivam por lá. E ninguém vai lá só porque o local é bonitinho”, afirma o ex-funcionário.
Curiosamente, Antonio Neto Ais e Fabrícia Ais receberam o prêmio de ‘Melhores do Ano Gospel 2021‘ na categoria Ação Social. O Prêmio Melhores do Ano Gospel, realizado desde 2010, é considerado como a maior premiação da música gospel nacional e internacional. A categoria Ação Social só aparece na edição de 2021. Coincidência?
Bullying e ciúme
Numa empresa em que a imagem era mais importante que a produção, não é surpresa que seus funcionários sofressem algum tipo de constrangimento, especialmente as mulheres.
“Fabrícia falava muito sobre a aparências das pessoas, criticava as mulheres que atendiam o público. Ela falava de roupas, sapatos, cabelo. Se ela não gostasse da roupa das meninas, ela soltava uma piadinha e todo mundo ria. Ela também falava dos sapatos dos brokes, mas era raro”. O fato de Fabrícia Ais ter um ‘problema’ maior com as funcionárias tem uma explicação pouco prosaica. “Ela tinha muito ciúme do Antônio”.
“Rolava uns papos sobre quem ficava no escritório à noite”, aqui a fonte se refere sobre alguns traders que precisavam passar a madrugada na empresa com o objetivo de analisar, em tempo real, as oscilações das criptomoedas e puderam testemunhar algumas situações.
“Antônio frequentava muito a noite lá com uma broker”. Aqui chegamos na zona cinza do bom jornalismo. Um relato é um relato, mas talvez caiba não adentrar em questões de natureza particular.
Mas o fato é que a velha e boa rivalidade feminina aliado à um homem extremamente vaidoso e um ambiente majoritariamente machista garantiu a demissão de algumas funcionárias que estariam passando do ‘limite’. “Mas todo mundo sabia quem era que passava dos limites”.
Ligações com políticos
Já é de conhecimento público que alguns políticos locais frequentavam o ambiente da Braiscompany. O ex-deputado federal Julian Lemos chegou a publicar em suas redes sociais um post de apoio à Antonio Ais.
Mas o fato é que vários representantes do clã Cunha Lima também eram frequentadores assíduos da empresa, e foi essa relação que garantiu a presença da Braiscompany num amplo espaço no Parque do Povo, durante o Maior São João do Mundo. “Eles também tinham uma preocupação com a garagem, que era muito exposta. Tinha uma entrada por trás, mas a frente da garagem era em vidro e dava pra tirar foto”. Algumas figuras proeminentes da política e da Justiça paraibana temiam pela exposição.
Bela por fora
A estrutura física da Braiscompany impressiona pela opulência, mas o espaço interno carecia de qualidade estrutural. “Aquilo é muito bonito por fora, mas na primeira chuva todo mundo teve que correr com os equipamentos das salas e se abrigar na garagem. Choveu dentro da sala, fez um buraco no teto. O Açude Velho tava no nível do calçamento, e a água forçando aquelas paredes de vidro. Aqueles carros que eles usam são alugados e o medo deles em ter algum prejuízo com os carros importados. Tudo ali era pra fazer imagem”.
“A maioria daquelas pessoas acham que são reis. Todo ano, quando eu encontro alguém que trabalhou lá, a gente aposta quando os faraós vão cair”.
Parece que finalmente, essa hora está perto de chegar.
Taty Valéria
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