De acordo com a Coordenação Estadual do MST na Paraíba, 4 homens armados e encapuzados invadiram o Acampamento Canudos em Riacho de Santo Antônio, município que fica a cerca de 70km de Campina Grande. A ação, que ocorreu na noite do último sábado (8), deixou um saldo de medo, violência e destruição.
Ainda de acordo com a Coordenação Estadual do MST na Paraíba, o crime está sendo acompanhado pela Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo, defensoria pública e pela delegacia de Polícia Civil da cidade de Queimadas.
“Era por volta de 20h30 do último sábado (08), quando 4 homens armados e encapuzados invadiram o Acampamento Canudos em Riacho de Santo Antônio, e surpreenderam as famílias que ali vivem. Amarraram os homens e atearam fogo em alguns barracos destruindo tudo.
O primeiro barraco abordado pelos homens foi o de Gerlane Alves (24), que estava com seus dois filhos (crianças de 5 e 2 anos), e seu companheiro. No momento da ação, Gerlane assava peixe e seus filhos viam tv com o pai. De acordo com a vítima os homens gritavam alto, diziam ser policiais e que estavam ali para fazer o bem. Wilian Alexandre (26), marido de Gerlane teve suas mãos amarradas com abraçadeiras de plástico e na sequência foram empurrados para fora do barraco com as crianças e viram os homens derramaram um produto inflamável e queimarem tudo que estava no barraco. Se quer permitiram que os pais tirassem as roupas e pertences das crianças.
“Entraram quebrando tudo, dizendo que era policial, só que eles não tinham nada de policial. Queimaram tudo. Cama, berço, geladeira, roupas, celular. Tudo que a gente tinha. Deixaram a gente assistir tudo nosso pegar fogo. Sensação horrível. Perdi tudo, né. E ainda ver minha filha desesperada chorando e eles dizendo que iam nos matar. Dá uma revolta muito grande. Minha força foi Deus. Mal eu tinha conseguido e eles destruíram tudo”.
O segundo barraco atacado foi de Dona Ivoneide Ferreira da Silva (46), que no momento estava jantando e também teve tudo destruído pelos homens. “Eles foram entrando e botando logo o revólver na cabeça do meu marido, dizendo que era da polícia e eu logo percebi que não era…. A gente ficou sem nada. Pedi para pegar meus documentos e eles disseram que documentos a pessoa tira de novo. Perdi tudo, tudo. Fiquei só com a roupa do corpo. Estou destruída. Destruíram meu sonho”, relata o que viveu muito emocionada.
O terceiro barraco foi o de Dayane Vitória (15) que tinha saído pra pegar um pouco de óleo vegetal na casa de sua sogra, e deixado sua bebê de três meses dormido na cama sob cuidados do pai.
“Gritaram pegando no meu braço e dizendo pra eu sair logo do barraco da minha sogra. Corri logo pro meu barraco pra pedir pra tirar minha filha. Tive muito medo de morrer. Fiquei toda me tremendo, passei mal na hora. Deu franqueza”.
Após expulsarem as famílias, os criminosos queimaram os barracos, deixando as famílias assistindo as chamas tomarem conta de tudo que ali haviam construído. Ao saírem gritaram para que eles fossem embora e nunca mais voltasse ali. A ação durou cerca de 1h.
As famílias acampadas viveram momentos de terror, mas conseguiram controlar o fogo. A Polícia Militar foi acionada e prestou assistência aos que ali foram covardemente atacados. Fizeram diligencias, mas os criminosos não foram encontrados.
De acordo com algumas famílias, no último dia 30 do mês anterior, representantes do INCRA Paraíba e da coordenação estadual do MST realizaram no acampamento o cadastramento para identificação das famílias naquele território ocupado. Na mesma semana, o proprietário da fazenda esteve no local acompanhado de um possível comprador do imóvel.
Há dois anos os moradores do acampamento vêm sofrendo duras ameaças de um funcionário da fazenda conhecido como Erivadro. Segundo relatos de algumas famílias ele já havia dito que iria botar fogo no acampamento e expulsar todos.
O acampamento é uma ocupação realizada pelo MST há 10 anos e abriga 56 famílias que reivindicam a desapropriação da fazenda Canudos com uma área de cerca de 3 mil hectares, e que se encontra abandonada, improdutiva, não cumprindo sua função social.
Durante todos esses anos, as famílias tem produzido palmas, milho, feijão, jerimum, melancia, batata doce, além de criação de gado, caprinos, porcos e galinhas.
O crime está sendo acompanhado pela Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo, defensoria pública e pela delegacia de Polícia Civil da cidade de Queimadas“.